Aos 69 anos, Guilherme Uchoa (PDT) caminha a passos largos para conquistar o sexto mandato seguido na presidência da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Os 12 anos à frente de um dos Poderes do Estado são um feito inédito desde que a República foi proclamada em 1889. Ao contrário do ano passado, quando enfrentou uma inédita resistência para continuar no cargo, o pedetista tem reunido, sem esforço, apoios que vão do Palácio do Campo das Princesas à oposição.
Dentre os muitos trunfos que explicam a longevidade do poder de Uchoa, dois se destacam: a falta de receio em comprar brigas para defender os demais deputados e o bom trânsito com o Judiciário. Juiz de Direito aposentado, o pedetista é visto como uma ponte entre a gestão Paulo Câmara (PSB) e a Justiça Estadual. Poucos meses após ser empossado, o governador bateu de frente com o Tribunal de Justiça (TJPE) por causa do duodécimo.
Uchoa pode ter dificuldade em sinalizar para fora da Casa, mas é quase uma unanimidade entre os deputados. Não raro, quando um parlamentar menos articulado tem dificuldade em falar com algum secretário, o presidente faz valer o seu prestígio para abrir os caminhos. Se é bem quisto pelo governo, Uchoa também inspira apoio na oposição, para quem é melhor tê-lo na presidência do que um socialista muito alinhado ao Palácio.
Sem medo da opinião pública, Uchoa assumiu o desgaste de várias polêmicas das quais fugiram os demais colegas. Recém-chegado à presidência em 2007, o pedetista mandou retirar das galerias da Alepe manifestantes contrários ao nepotismo durante uma sessão que debatia o projeto. Ele próprio chegou a lotar um filho no gabinete e criticou a OAB por condenar a prática.
Dois anos antes, durante o referendo das armas, Uchoa fez campanha contra o desarmamento. Ao longo de 2013 e 2014, impetrou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) sustando resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que reduzia o número de deputados na Alepe.
Em novembro de 2006, o deputado trabalhou contra a concessão do título de cidadão pernambucano ao ex-procurador-geral de Justiça Francisco Sales, que é paraibano. O gesto era uma retaliação. Dois meses antes, um aliado e amigo de Uchoa, o ex-prefeito de Abreu e Lima Jerônimo Gadelha foi detido durante 33 dias após uma ação do Ministério Público.
Uma das poucas vozes abertamente contrárias ao pedetista dentro da Alepe, o deputado estadual Edilson Silva (PSOL) avalia a possibilidade de se lançar candidato à presidência da Casa para não ter que votar no atual ocupante. “Eu não me sinto em condições de apoiar e votar num candidato como Guilherme Uchoa”, dispara.
Guilherme Uchoa ascendeu ao poder com Eduardo Campos, que pregava uma “nova política”. Na gestão do socialista, era comum que o pedetista terminasse o expediente no Palácio, ao lado do governador e de outros articuladores políticos como Ettore Labanca. “Com Paulo Câmara ele não tem a mesma intimidade. Mas sempre que há dificuldade na tramitação de um projeto, ele ajuda”, conta um palaciano.
Paulo é o terceiro governador socialista que Uchoa assiste passar pelo Executivo desde que assumiu a Alepe. Na linha sucessória, já exerceu o governo cinco vezes. Quando o PSB precisou reeleger o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o pedetista foi criticar a oposição nos palanques.
Talvez isso ajude a explicar porque o PSB, que tem 14 dos 49 deputados, desistiu de tentar catapultá-lo da presidência. Mesmo o principal adversário na corrida da Mesa, Romário Dias (PSD), já sinalizou que prefere concorrer em um entendimento com Uchoa.