Entrevista de Humberto Costa à Veja desagrada dirigentes do PT em PE

Petistas pernambucanos discordam da tese do senador sobre narrativa do 'golpe'
Franco Benites
Publicado em 21/02/2017 às 6:30
Petistas pernambucanos discordam da tese do senador sobre narrativa do 'golpe' Foto: Divulgação


Uma entrevista do senador Humberto Costa (PT) à revista Veja desta semana incomodou as principais lideranças do partido em Pernambuco. Com exceção do ex-prefeito João Paulo, que preferiu silenciar, os demais dirigentes  apontaram erros nas avaliações de Humberto. Entre elas, a de que “não dá para ficar só no discurso do golpe” e de que não elimina a possibilidade do PT pedir perdão à sociedade. 

Presidente do PT em Pernambuco, Bruno Ribeiro afirmou ter respeito pela trajetória política de Humberto, mas contestou as declarações do colega. “O combate a esse golpe é importante para restaurar a democracia. É importante que a gente se posicione para que o militante saiba o que o partido deseja. A maioria quer combater o golpe”, disse. 

Na avaliação de Bruno, um pedido de desculpas do PT é descabido. “Não aceitamos a ideia que temos que pedir desculpas a seu ninguém. Essa é a narrativa de áreas conservadoras que querem criminalizar o PT. Mesmo que você identifique alguém dentro de uma instituição que tenha praticado algum ato ilícito você não pode generalizar. Este País viveu nos últimos 15 anos um ciclo inédito de crescimento e inclusão social”, defendeu.

O ex-prefeito João da Costa (PT) enfatizou que as discussões sobre os rumos do PT devem ocorrer internamente no congresso partidário realizado este ano. Ainda assim,  avaliou as declarações de Humberto. “Acho que o golpe está em curso e ainda não terminou. Não é uma questão de marketing, se a gente deve continuar falando ou não porque isso está consolidado. Ainda hoje denunciamos o que aconteceu no Brasil há”, declarou.

O ex-deputado federal Fernando Ferro (PT) foi mais incisivo nas críticas ao colega de partido. “Acho que quando a gente dá uma entrevista e precisa ficar se explicando é sinal de que algo não foi bem. Achar que o golpe já aconteceu e a gente tem que se adaptar é uma postura de rendição. O golpe aconteceu e continua a acontecer”, opinou.

Em entrevista à TV JC, a deputada estadual Teresa Leitão (PT) reforçou a linha de raciocínio dos colegas. “Tenho todo o respeito pelo senador, mas nesse momento  achei a entrevista mal colocada, dissociada da realidade da militância e muitíssimo precipitada”, pontuou.

Assessor de Humberto no Senado, Dilson Peixoto (PT) disse que a entrevista teve alguns “excessos”, mas saiu em defesa do aliado.  “O que ele quis dizer, e aí eu concordo, é que, para além do golpe, que de fato aconteceu, a gente precisa, para poder se recolocar como alternativa política, é discutir o País”, analisou.

João Paulo foi contactado em duas ocasiões ontem. À noite, disse que tinha falado com Bruno Ribeiro e que preferia deixar que o presidente estadual do PT se pronunciasse sobre a entrevista concedida por Humberto Costa.

HUMBERTO SE EXPLICA

 

De Israel, onde está em missão parlamentar, o senador Humberto Costa (PT) acompanhou a repercussão de sua entrevista à Veja. Ele gravou um vídeo para responder às críticas dos militantes petistas e agradeceu às manifestações de apoio que recebeu nas redes sociais. O pernambucano também disse que colocou um “tema audacioso” em debate.

Humberto destacou que falou com a reportagem da Veja da mesma forma com que conversa com repórteres de  veículos que não foram contrários ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e enfatizou que a própria petista e o ex-presidente Lula (PT) usam esses mesmos canais de comunicação para expor suas ideias.

“Aceitei (a entrevista) porque queria falar para outras pessoas além daquelas do PT, para que pudessem refletir sobre os momentos em que estamos vivendo e sobre o que o PT precisa fazer”, afirmou. Ele ainda disse que não fez nenhuma alusão de que o PT é corrupto, mas que apenas sinalizou a necessidade do partido promover uma “autocrítica profunda”. 

Além do vídeo, Humberto deu explicações sobre a entrevista em sua página no Facebook e uma das frases mais repetidas pela equipe de comunicação do senador é de que a chamada no site da revista Veja não era “fiel à entrevista dada”. 

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