A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de rejeitar, por 6 votos a 5, habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve impactar nas conversas entre PSB e PT em torno de uma aliança em Pernambuco. A avaliação é do governador do Estado, Paulo Câmara (PSB). Com habeas corpus rejeitado, o STF permite que o petista seja preso após esgotados todos os recursos no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
"A gente continua conversando com o Partido dos Trabalhadores independente desta questão judicial, isso nunca foi um ponto de discussão. A gente tem que ter a capacidade de sentar, nossa responsabilidade é com Pernambuco e a gente quer estar junto de quem quer nos ajudar. Precisa de muita discussão e temos prazo, só vamos realmente discutir essa questão de aliança em julho, agosto", disse o governador na manhã desta quinta (5), durante o 5º Congresso Pernambucano de Municípios, realizado pela Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe).
Em Pernambuco, onde o apoio do petista tem forte apelo no eleitorado, a saída de Lula da disputa afeta o plano de Paulo Câmara de firmar uma aliança com o PT para enfrentar a oposição. "O processo ainda está nos trâmites, temos preocupação com o que está acontecendo com o Brasil, mas todo o pernambucano tem respeito e gratidão por Lula, ninguém vai negar a quantidade de investimentos feitos por ele a Pernambuco, foram muito vultuosos. E quando a gente vê pesquisas de municípios que chegam a popularidade e respeito a Lula. Entendo que, independente das questões jurídicas que a gente tem que respeitar, que há gratidão pelo trabalho dele como presidente", disse o governador.
Ao repórter Paulo Veras, deste JC, aliados do governador evitaram antecipar o impacto de uma prisão de Lula nos planos eleitorais do PSB e ressaltavam que esse cenário ainda precisará ser melhor analisado. Os socialistas esperavam contar com o forte apoio de Lula no interior para consolidar a campanha pela reeleição do governador. Até o momento, porém, o PT mantém pré-candidaturas ao governo como a da vereadora do Recife Marília Arraes. O nome de Marília favorece o plano da oposição de levar a disputa para o segundo turno.
“Acho que não vai haver uma tendência de unificar a esqureda aqui. Mas isso pode servir como mote para o PT sedimentar essa aliança. É preciso saber se o PSB, dada a influência e o prestígio que Lula tem em Pernambuco, vai mudar de estratégia. Tudo indica que a oposição vai vir com muita força nessa próxima eleição”, pondera o cientista político Ernani Carvalho, professor da UFPE, que ainda vê chances da aliança ocorrer.
Para o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC do Rio de Janeiro, Paulo Câmara se precipitou ao buscar o apoio de Lula antes de uma definição no cenário eleitoral, inclusive da candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa pelo próprio PSB. “Se for preso, Lula não vai estar no palanque dele. Ou o Lula vai gravar um vídeo da prisão para a campanha de Paulo Câmara? O governador queria pegar o voto de Lula, que entraria no palanque e garantiria a eleição. Mas ela continua em aberta”, argumenta.