Quando recebeu a reportagem do Jornal do Commercio para dar uma entrevista e contar um pouco de sua história no rádio pernambucano, Gino César tomava um generoso copo de café (daqueles de plástico, de 200ml) com pão francês. Foi enfático. “Você quer saber o quê? Minha vida não tem nada de interessante para contar. Procure saber coisas de outras pessoas. Sou muito normal, não perca seu tempo comigo”, disse, encerrando o assunto e não dando brecha para nova indagação. Sete meses depois, nova tentativa. “Mas meu Deus, já disse que não tenho o que falar. Você de fato é persistente. Não quero falar porque simplesmente não há o que dizer”. Mas não pense, leitor, que as negativas caracterizam antipatia. Pelo contrário. Gino César, também conhecido como “O repórter do Bandeira 2”, é a simpatia em pessoa. Ter a maior audiência do Brasil quando o assunto é rádio não tira sua simplicidade. Cumprimentar as pessoas é uma regra. Nos corredores da Rádio Jornal, onde trabalha há mais de 30 anos, esbanja naturalidade. Fez o caminho inverso: em vez de ficar com o coração mais duro, por tratar de assuntos pesados todos os dias, tornou-se mais humano. Só não gosta de entrevistas formais. Timidez típica de quem vive para contar histórias dos outros. Não a dele.
“Minha vida é muito simples. Comecei a trabalhar cedo. Com 10, 12 anos, já estava fazendo radionovela. Hoje estou aqui, apresentando os dois programas policiais da Rádio Jornal”, conta ele. Os dois programas em questão são Plantão de Polícia, que dá voz a prisões e fala de delegados e policiais, e o Bandeira 2, que narra fatos policiais e crimes de repercussão ocorridos em Pernambuco.
A vida de Gino César, que nasceu Joaquim José da Silva e prefere não revelar idade, se confunde com a do rádio pernambucano. "Eu era jovem e depois da rádio novela fui convidado para fazer matéria de polícia. Topei o desafio. Comecei e não parei mais”, conta.
Foi nesse período que Gino César ficou conhecido como “O repórter do Bandeira 2”. “Na época que comecei a trabalhar com polícia, havia muito assalto a taxistas durante a madrugada, quando é cobrada a tarifa bandeira 2. E eu fazia muita matéria com esses profissionais, justamente sobre esses assaltos. Por conta disso passaram a me chamar dessa forma".
Gino tem algumas características peculiares. Um dos principais é um vistoso chapéu. São poucas as pessoas que já o viram sem usar o acessório. Virou marca registrada. Tem centenas deles. “Tem gente que nunca me viu sem chapéu. Gosto de usá-los. O engraçado é que nunca comprei um. Todos os que tenho foram dados por pessoas que gostam de mim”.
Gino pode se gabar de, nos tempos atuais, nunca ter usado computador. Para redigir suas notícias policiais e ler no ar durante o Bandeira 2, usa máquina de datilografar, objeto cada vez mais raro. “Acho que sou a única pessoa ligada ao jornalismo que ainda usa máquina de datilografar. Sempre foi dessa forma. Nunca usei um computador. Na verdade, nunca liguei um. Não sei nem como faz”. A dificuldade maior para utilizar datilografia é comprar as fitas necessárias para registrar tudo no papel. “Compro em livrarias. É cada vez mais raro, mas ainda consigo. E a máquina resolve muito bem a minha vida. Eu mesmo datilografo minhas notícias e as leio no ar. Qual a complicação disso?”, questiona.
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