Não é exagero dizer que a história da tecnologia em Pernambuco se confunde com a trajetória da Procenge. Sob muitos aspectos, uma é reflexo da outra. Completando 40 anos em 2012, a Procenge acompanhou toda a transição da utilização e provimento de tecnologia, passando, literalmente, do cartão perfurado à computação em nuvem. Nesse tempo, a empresa sofreu e beneficiou-se da política de reserva de mercado, ajudou a criar o Porto Digital, ao mesmo tempo que não contou com o polo para fechar seu melhor negócio e, assim como todo o mercado de TI do Estado, teme ser atropelado pelo próprio desempenho da economia pernambucana.
“Como a Procenge começou? Vamos ao Gênesis”, brinca o presidente da Procenge, José Cláudio Oliveira, um dos três sócios da companhia. Para resumir, a Procenge é um spinn-off da Astepe, empresa criada logo após a dissolução do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) de Pernambuco, considerado na época o de melhor corpo técnico do País. “Achavam que aquilo era um antro de comunistas”, ri Oliveira. A empresa, dedicada à elaboração de projetos para rodovias e estradas de ferro, foi das primeiras a perceber o valor da computação neste segmento. A empresa tinha uma forte parceria com a IBM, onde Oliveira trabalhava na época.
“Mas logo a Astepe percebeu que havia outro negócio a ser explorado a partir dos computadores. Algo que não tinha a ver com engenharia. Era prestação de serviços, processamento de dados. Criaram a Procenge como uma unidade de negócios, que nos anos 80 era responsável pelo processamento de dados de todos os bancos no Estado, com exceção do Banorte e Bandepe, instituições que tinham equipes próprias. Na mesma época, alguns sócios da Astepe decidiram vender a Procenge. “Chegamos a ser 21 sócios”, lembra Oliveira, que completa: “Parecia o PT. Era assembleia atrás de assembleia”.
O motivo do cisma foi o preço dos equipamentos. Na época, os computadores usados para processamento de grandes volumes de informação eram caríssimos, comprados em dólar. Numa dessas vezes, Oliveira lembra que o governo desvalorizou a moeda, causando um prejuízo que quase fechou a empresa. “Tivemos que vender um prédio que tínhamos em Maceió, do dia para a noite, para pagar a dívida. No universo da consultoria, da engenharia, esse tipo de ocorrência não existe. Na tecnologia é uma constante”, diz.
Mas as mesmas arbitrariedades do governo nos anos 80 beneficiaram muito a Procenge. Na época da reserva de mercado, quando o governo tentava proteger a produção local de tecnologia, era quase proibido importar equipamentos. “Só que como nós já tínhamos computadores, nos tornamos uma das poucas empresas do País no setor. Chegamos até a fazer sistemas para motéis na Bahia”, lembra Oliveira.
O resultado é que a Procenge acabou sendo a responsável pela modernização da entrega de contas de água de Alagoas e Pernambuco, ajudou a criar a Empresa Municipal de Transportes Urbanos (EMTU), informatizou o processo eleitoral no Nordeste e ainda reforçou a padronização dos sistemas bancários no País nos anos 90. “Fizemos a eleição de Collor em Alagoas. Montamos os computadores em Maceió, mas o mainframe ficava em Casa Amarela. Também fomos responsáveis pelo conceito da EMTU. E quando o sistema bancário mudou, já tínhamos sistemas em conformidade com as exigências do governo”, conta Oliveira.
Com o fim da reserva de mercado e a entrada dos microcomputadores, o negócio mudou. A Procenge, que chegou a comprar 20 unidades do micro “made in PE” Corisco, via nos PCs uma ameaça, já que ter as máquinas grandes e caras não era mais vantagem. “Criamos o Pirâmide, um ERP que acabou sendo nosso carro-chefe”, conta. Com ele, a Procenge atingiu seu status de potência da TI local, com mais de 300 funcionários e faturamento previsto para R$ 45 milhões este ano. Para o futuro, Oliveira conta que a Procenge investirá em cloud computing para fornecer mais serviços, além de integrar ferramentas de inteligência de negócios ao Pirâmide.
SUCESSO E RECEIO
Atualmente, a Procenge comemora contrato com a megacorporação japonesa Mitsui e com a Petrobras. É criação da pernambucana o sistema de fornecimento de gás para companhias e residências. “Batalhamos muito por este contrato que, infelizmente, não teve nada a ver com a operação da Petrobras em Suape, nem nossa presença no Porto Digital. Batemos na porta deles no Rio de Janeiro para apresentar nossa solução”, conta Oliveira. Ele confessa estar preocupado com os rumos da tecnologia no Estado e teme que o próprio crescimento econômico acabe canibalizando o setor de TI do Recife.
“Somente o centro de desenvolvimento da Fiat vai abocanhar 400 desenvolvedores. Tenho medo de perder pessoal para eles sim. Se a Procenge e as outras empresas do Porto Digital não entrarem na cadeia de Suape e dos demais empreendimentos, é capaz de acontecer como em Camaçari, que teve seu polo de TI canibalizado pela chegada de grandes empresas”, destaca.