Chegamos à marca dos primeiros seis meses de governo. E estamos mergulhados em uma crise tal que nada poderia ser mais simbólico que a alusão da presidente Dilma Rousseff (PT) à Idade Média, em frase estampada hoje nos jornais do Brasil e do exterior. Dilma criticou as delações da Lava Jato. Contudo, se embarcarmos no mote da Idade Média, podemos ver aí mais conexões do que simplesmente a suposta “inquisição política”.
Nestes seis meses, o poder central foi fragmentado entre os, digamos, senhores feudais. Os principais são o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o do Senado, Renan Calheiros, ambos à frente do arredio PMDB. Mas temos outros, pois os partidos da base, se é possível falar nisso, também vão reafirmando, proporcionalmente, seus próprios poderes, como fazem o PP e o PDT.
Aí vem outro simbolismo importante. O PT e o ex-presidente Lula, de olho em 2018, aproveitam a viagem da presidente ao exterior e exercem poderes sobre o Estado. O PT, um partido, como a Igreja na Idade Média realiza atribuições de Estado: vai e “convida” o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para explicar a atuação da Polícia Federal. Lula, sem mandato, vai a ministros e senhores feudais – quer dizer, líderes políticos – e articula a resposta do governo para a crise.
Claro, até a pior turbulência passa. Mas o retrato de agora é: em seis meses, Dilma está acuada, não comunica um plano de País e tem fatias de poder abocanhadas por pequenos, médios e grandes donos do poder.
O Brasil não teve Idade Média. Agora tem. Bem-vindo.
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