A lógica do haitiano sobre Bolsonaro: se não é líder, não é presidente

Ser presidente é ter um diploma de papel emitido pelo Tribunal Superior Eleitoral após vencer a eleição. Ser líder é diferente, porque é preciso construir isso no coração e na mente de cada liderado, de cada brasileiro
Igor Maciel
Publicado em 17/03/2020 às 12:00
No último domingo (19), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de ato que pedia, entre outras coisas, a volta do AI-5 Foto: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL


A primeira morte causada pelo coronavírus no Brasil, já confirmada em SP, precisa de uma palavra do chefe de Estado que hoje ocupa o poder Executivo.

Serve também para as mortes que devem acontecer ainda, serve para as centenas e talvez milhares de infectados que irão surgir pela frente, apesar de o governo querer limitar o número de testes feitos, talvez para que não se saiba ao certo o tamanho do problema.

O Presidente da República precisa liderar. É o mínimo que se espera dele.

A maneira como esse governo lida com a realidade é preocupante. Acreditar que uma doença já com mais de 7 mil mortos no mundo é “fantasia", ou que cancelar jogos de futebol por causa disso é "histeria", só piora a situação.

Até o momento em que este texto está sendo escrito, não se sabe quem é o haitiano que confrontou o presidente ontem à noite, nem como ele foi parar ali na porta do Alvorada, mas a fala dele foi rapidamente para o topo da lista de assuntos mais comentados nas redes sociais, por um motivo muito simples: o sentimento geral de que o presidente, neste momento, não lidera.

Ser presidente é ter um diploma de papel emitido pelo Tribunal Superior Eleitoral após vencer a eleição. Ser líder é diferente, porque é preciso construir isso no coração e na mente de cada liderado, de cada brasileiro.

A lógica do haitiano, seja ele quem for, é simples: se você não lidera, não é líder. Se não é líder, não é presidente. E contra isso, Bolsonaro só tem um pedaço de papel escrito “diploma" no topo para usar como resposta. Não é suficiente.

Mas, eleito por dezenas de milhões de votos, Bolsonaro pode e deve reagir. Pra começar, precisa liderar, assumir a frente das ações de combate ao coronavírus.

E não ficar mandando auxiliares para participar de reuniões, como tem feito há vários dias, para tentar se descolar do efeito negativo do problema, quando está atolado nele até o pescoço.

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