A crise só evidencia o que é a realidade do setor público em PE no que diz respeito ao fornecimento de equipamentos. Não tinha coronavírus e já faltavam máscaras, não tinha coronavírus e já faltou sabão. Não tinha coronavírus e faltam medicamentos com frequência.
Então é bom ter a consciência de que não é algo novo, devido à pandemia. Trata-se de um problema antigo, com as consequências ainda mais agravadas pelo coronavírus.
A ação do Governo de Pernambuco que foi com a Polícia Militar a um estabelecimento comercial, mandou abrir as portas e saiu de lá com quase R$ 50 mil em máscaras é algo legal e necessário pela urgência dos tempos.
O fato de ter acontecido na noite anterior ao prazo dado pelos enfermeiros que não aguentam mais trabalhar sem equipamentos de proteção e ameaçavam cruzar os braços, só mostra que, mais uma vez, o Estado não conseguiu comprar pelas vias normais e mais uma vez ninguém queria vender ao Estado, cuja fama de mau pagador o precede.
A coluna já alertou, na versão impressa do JC, tempos atrás, o risco que existe nessa fama. Na época, com a crise do óleo nas praias, o Governo de Pernambuco tentava comprar material de limpeza para a crise e não conseguia.
Ninguém queria vender ao Estado, porque tinha medo de não receber nunca. A lista de fornecedores que tem dinheiro a receber não é pequena. E as perspectivas nunca são boas.
O governo vem se equilibrando em suas dívidas há anos e construiu uma imagem que se atrapalha apenas os negócios dos fornecedores ao longo da dívida, coloca a população em risco durante momentos difíceis como o episódio do óleo e agora o coronavírus.
O ditado “devo não nego, pago quando puder” não é engraçado, nem esperto. Mais ainda, é indigno do poder público que precisa passar credibilidade para poder liderar e também cobrar impostos. Quando não paga seus fornecedores, qual o recado que o Governo dá ao contribuinte? Que ele também não precisa pagar?
É muito feio. Principalmente quando falta, segundo os enfermeiros, até sabão pra lavar as mãos.