Em 2018, já se poderia deduzir que não seria fácil formar uma coalizão do governo no Congresso. O motivo maior é ideológico, passa por um pouco de ignorância, mas é matemático também. Ao fim da apuração, 30 partidos conseguiram conquistar cadeiras no Parlamento e o volume de votos nunca foi tão pulverizado em toda a história da atual República.
Há um cálculo criado para averiguar isso, pelos professores Marku Laakso e Ren Taagepera, em 1979. Eles fizeram uma fórmula para delimitar o Número Efetivo de Partidos (NEP), por entenderem que a quantidade de partidos políticos não define a sua influência.
Quando se diz que o NEP está em 4,5 pontos, por exemplo, significa que quatro partidos realmente tem força, por terem alcançado um número muito grande de votos, e os outros oferecem pouca influência.
Para se ter uma ideia, em 1989, com 19 partidos, o NEP do Brasil era de 9,1. Significa que nove partidos tinham protagonismo e dez era coadjuvantes, sem grande expressão. Esse número caiu em 1994 (8,1), voltou a cair em 1998 (7,1) e subiu para 8,4 em 2002. Em 2006, o Brasil tinha 20 partidos e o NEP estava em 9,3. Foi entre 2006 e 2014, que alguns grupos partidários perceberam que podiam conseguir vantagens se montassem seus próprios partidos, para controlar verbas partidária e eleitoral. De 20 partidos o Brasil passou a ter 28 e o NEP saiu de 9,3 para 13,4.
Em 2018, quando Bolsonaro foi eleito, o País já tinha 30 partidos com espaço no Congresso e o NEP subiu para 16,4. Significa que quando o Executivo procura o Congresso para negociar, precisa convencer não quatro ou cinco partidos, mas 16, com interesses diferentes e visão diferente sobre o mundo. Não é fácil.
Fora isso, formar uma coalizão atendendo tantos partidos ao mesmo tempo, significa ser obrigado a dividir mais o bolo. Quanto menores são as fatias, menos satisfeitos os partidos ficam e maior é a chance de traírem o grande grupo.
Bolsonaro não quis fazer nenhum tipo de composição quando foi eleito. Natural que tentasse um novo modelo, já que sempre confundiu coalizão com mensalão, ou apenas queria confundir seu eleitorado misturando as duas coisas. De qualquer forma, o primeiro a tentar garantir as votações no Congresso, mesmo que tivesse boa vontade, foi Onyx Lorenzoni, como chefe da Casa Civil, que encontrou metade dos partidos exigindo espaço num governo que já estava com as vagas ocupadas. Afinal, Bolsonaro fez questão de escolher ministros consultando mais os próprios filhos do que os partidos. Onyx falhou miseravelmente e foi substituído, não por acaso.
Agora, o presidente conversa com os líderes de alguns partidos para tentar salvar a situação. Nunca vai admitir, porque esse tipo de grandeza não é de seu feitio, mas está sendo obrigado a rever suas convicções de que coalizão é corrupção. Pode ter sido alertado pelos militares de que, com menos de 50 deputados fieis, um impeachment seria inevitável.
O problema, como em quase tudo o que Bolsonaro faz, é a forma. Ele começou logo por Valdemar Costa Neto (PL) e Roberto Jefferson (PTB), presos no Mensalão. Outro problema, para Bolsonaro e para o Brasil, é que não adianta só conversar com dois ou três partidos. Com o NEP tão alto, na casa de 15 ou 16, para ter maioria no Congresso, Bolsonaro será obrigado a conversar com Rodrigo Maia (DEM) que, sozinho, controla quase 200 votos na Casa ou trabalhar fortemente para tirá-lo da presidência da Câmara.
Se não conseguir tirar Maia a influência de Maia, Bolsonaro, para sair do isolamento, teria que pedir desculpas ao deputado pelos ataques que já fez contra ele.
Vai ser curioso.
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