O PT montou sua estratégia: quer garantir que Jair Bolsonaro sangre até 2022 e deixe o País em frangalhos, para poder aparecer como salvador, repetindo um sonoro “eu avisei” a todos e acolhendo seus antigos detratores com um abraço paternal que traduza algo como “todo mundo erra e eu perdoo você”.
Ao menos esse é o enredo do sonho petista do momento. Se observar bem, dá pra perceber que os petistas insistem em bater mais em Sergio Moro do que em Bolsonaro. Tratam Bolsonaro como se fosse um peso nulo na presidência e Moro como bandido.
Há petistas que já falam até em legitimidade dos 57 milhões de votos de Bolsonaro, fazendo analogia com o mandato de Dilma que terminou em impeachment. Algo como: não merecíamos, ele também não merece.
Receber o apoio do PT é algo muito ruim para alguém como Bolsonaro, mas se esse apoio contra um processo de impedimento parte da maior bancada da Câmara, isso se torna bastante importante.
Conto uma história: um senador com mandato lá entre 2014 e 2015, contou-me que no meio do processo de impeachment foi procurado pelo então colega de Senado Aécio Neves (PSDB). Como se sabe, o PSDB foi um dos maiores fiadores do processo de impeachment.
Neves queria conversa sobre a tramitação do processo na Casa. Em dado momento, o neto de Tancredo solta essa: “o mais importante é que a gente atrase o máximo que for possível”.
O interlocutor, sem entender bem, questionou o que tinha que ser atrasado? "O processo”, respondeu Aécio, que explicou: "nós conversamos e chegamos a conclusão que o melhor é não ir em frente com o impeachment agora. Se Michel Temer (MDB) assumir, as coisas podem se equilibrar no País e o cenário da eleição em 2018 fica mais complicado".
Todo mundo, então, entendeu que o objetivo de Aécio era deixar Dilma sangrando (junto com o País), para que a situação fosse tão desesperadora em 2018 ao ponto de elegermos ele, Aécio, quase que por unanimidade. Como se sabe, ele não conseguiu e ela foi retirada do poder.
Hoje parece muito irreal, mas havia a possibilidade de se construir uma situação em que Aécio Neves surgiria como o grande salvador do Brasil. Ele não contava com os escândalos de corrupção que o obrigaram até a desistir do Senado e tentar sobreviver como deputado em 2018.
Quem diria que Bolsonaro se tornaria o PT de 2015 e que o PT viraria Aécio Neves.
Deve ser o vírus.