Exercício de imaginação. Um mesma avenida, de um lado tem coronavírus e as aglomerações ajudam a espalhar a doença. Juntar gente ajuda na transmissão, pressiona o Sistema de Saúde e piora a tragédia. Do outro lado, nada de coronavírus, uma área completamente livre da doença. No lado da avenida em que o vírus está circulando e as aglomerações são proibidas há uma agência da Caixa Econômica Federal, onde as pessoas estão dormindo na fila, aglomeradas, para sacar um auxílio que lhes mate a fome em meio ao caos. Do outro lado, onde a vida seguiu normalmente e não há coronavírus, localiza-se um estádio de futebol e hoje é dia de clássico.
Apesar de os clubes serem privados, o Governo do Estado disponibiliza sempre um efetivo policial gigantesco para escoltar grupos de torcidas organizadas que costumam brigar entre si. O Governo, nesses casos, com a Polícia Militar, mantém a ordem dentro e fora do estádio, que é um ambiente privado. Policiais organizam as filas para entrada, fazem a revista dos torcedores, assumem a manutenção da ordem dentro e fora.
Já no lado da avenida em que as pessoas estão lutando numa fila para conseguir dinheiro para comprar comida, a desordem é grande. Então, o Governo do Estado resolve tomar uma atitude: entra com uma ação na Justiça para obrigar a Caixa Econômica, e o Governo Federal, a resolverem sozinhos a situação absurda. Porque ele, o governo estadual, é que não vai resolver.
Lógico que nossa avenida imaginária não existe, mas serve para observar como seria se a aglomeração fosse um jogo de futebol, que é o que acontece normalmente. Nunca se viu o Governo reclamando dos clubes de futebol pela violência. Ao contrário, disponibiliza a polícia, paga com dinheiro do contribuinte, e pronto.
Não estamos tendo futebol, mas a própria decisão da Justiça, que negou o pedido do Estado, lembrou que os policiais hoje utilizados para impedir as pessoas de irem à praia, por exemplo, poderiam muito bem ser deslocados para organizar essas filas.
A união de esforços entre todos tem sido cobrada. Não adianta só cobrar e não oferecer ajuda também. A Caixa está com problemas para organizar o atendimento, organizar filas, e o Estado não pode ajudar? Porque o presidente é adversário político? E não era exatamente contra essa mistura de política com pandemia que se estava lutando desde o início?
Quem reclama tem que dar exemplo.
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