Na terça-feira (13), pela primeira vez, o presidente Jair Bolsonaro perdeu a paciência com os próprios apoiadores, aqueles que ficam num cercadinho esperando que ele passe.
Sim, o cercadinho ainda existe, só não há mais aquela cobertura da imprensa que parece ter, finalmente, entendido que servia como palanque do caos político e nada mais.
O presidente, acuado pela instalação da CPI da pandemia, tentou fazer seu discurso contra o ministro Luís Roberto Barroso, mas os apoiadores não prestavam atenção. Ele avisou que era importante o que estavam falando, foi interrompido por um seguidor pedindo "atenção ao Rio de Janeiro".
Bolsonaro deu uma bronca, disse que não estava ali para ser cobrado. "O que é dar atenção?" Tem um governador e tem um prefeito lá", respondeu. E completou: "Impressionante! O pessoal, em vez de dar força pra mim, critica. Não sou ditador do Brasil".
O presidente, então, retomou sua fala, querendo dar sua versão aos seguidores sobre a ligação gravada entre ele e o senador Jorge Kajuru. Foi interrompido, novamente. Dessa vez, por uma mulher, segurando um telefone, que pedia para o chefe do Executivo "mandar um alô para a mãe dela".
Ele interrompeu, deu as costas e entrou no carro, seguido pelos seguranças.
Na quarta-feira (14) com a CPI já criada, as notícias continuaram ruins. A formação dos integrantes da Comissão de Inquérito tem muito mais oposição do que Governo. Tendência é que os trabalhos foquem na condução dele no combate à pandemia e não nas verbas recebidas por governadores e prefeitos.
O presidente voltou a se irritar, disse que "o Brasil está no limite", falou em "barril de pólvora". Como se ameaçasse um levante popular. O problema é que quase ninguém leva mais Bolsonaro a sério.
Todo mundo entende que quando fala em Brasil, Bolsonaro se refere a si mesmo.
A ideia era pressionar o STF, que deve referendar a CPI da Pandemia no Plenário, nesta quarta-feira. Os ministros do Supremo trataram como bravata, quando não ignoraram completamente as falas do presidente.
Sem ajuda dos militares, enfraquecido politicamente, brigado com as outras instituições e com apoiadores que o enxergam mais como uma subcelebridade do tipo que se persegue com a intenção de gravar um "alô para a mãe", o presidente da República parece cada vez mais perdido e tem dado mostras de que está em seu limite.
Resta saber o que acontece depois.