Matemática é bom pra disfarçar, mas também serve para deixar transparente. Depende do uso que se faz dela.
No fim do ano passado, quando cobrado sobre a queda no PIB do Recife, o prefeito da cidade, João Campos (PSB), criticou quem comparava a riqueza de Fortaleza e Salvador com a capital pernambucana, já que a população do Recife é a menor entre esses três municípios. Para Campos, era preciso olhar o PIB per Capita, proporcional à população, para poder comparar.
Tangenciar é uma forma de fazer política. O pai dele, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), costumava criticar os números da violência antes do Pacto pela Vida. Dizia que "não se importava com números, mas com o bem estar das pessoas". Até que o Pacto pela Vida começou a dar resultados positivos. Daí em diante, sempre que alguém perguntava sobre algum episódio específico de violência no estado, ele respondia: "Se você olhar os números, vai ver que estamos no caminho certo".
Mas, esse texto não era pra falar do PIB, nem de Eduardo Campos. É sobre o IPTU.
É que foi comentado há alguns dias, com certo orgulho, por um integrante da prefeitura do Recife, que a cidade tinha arrecadação menor do que Fortaleza e Salvador. Algo do tipo, "veja lá os números, Salvador e Fortaleza que vocês gostam de comparar com a gente, cobram muito mais imposto".
É verdade. Ou, talvez, seja apenas um pedaço dela.
Os números
Salvador arrecadou R$ 800 milhões e Fortaleza tirou R$ 554 milhões dos contribuintes em 2021, no Nordeste. Já a capital de Pernambuco, tirou do contribuinte, no ano passado, o valor de R$ 504 milhões.
Mas, usando a sugestão do prefeito João Campos, engenheiro e bom de contas, vale dar uma olhada na distribuição disso, de acordo com a população.
Sendo assim, é o Recife que cobra mais imposto da população entre essas três capitais. Dividido pelo número de habitantes, cada recifense pagou em 2021 o equivalente a R$ 303,26.
Em Salvador, com população bem maior, o total, dividido, ficou em R$ 276,00 por habitante.
Já em Fortaleza, apesar da arrecadação também maior do que Recife, o valor per capita dá R$ 204,94.
Cada morador do Recife paga, no rateio, R$ 100 a mais do que os moradores da capital cearense e quase R$ 30 a mais que os baianos.
E vai ter aumento
Em 2022, Recife decidiu reajustar em mais de 10% o imposto. Salvador seguiu o aumento. Já Fortaleza, aplicou apenas a inflação do último trimestre de 2021, o reajuste será de pouco mais de 3%.
Os cearenses vão continuar pagando menos imposto.
E, quem conhece essas outras duas capitais nordestinas sabe que eles também seguirão tendo serviços melhores.