As federações partidárias podem ser comparadas com um quebra-cabeça. Neste momento, um de 5.568 peças que precisam ser encaixadas.
Cada município é um problema para os partidos.
Esta semana, quando o STF manteve as federações e deu prazo até o dia 31 de maio para que sejam registradas (era pra ser em março) confirmou o dispositivo que o Congresso criou como disfarce para as coligações.
O professor Maurício Romão, em texto recente, pontuou que em eleições anteriores "cada um do campo da esquerda (PT, PSB, PDT) esteve junto em aliança em torno de uma mesma candidatura a prefeito com partidos do campo oposto, nunca menos que em 1.000 municípios. Por exemplo, o PT com o PP (aliados em 1.531 municípios), com o DEM (1.041), com o PL, hoje com Bolsonaro, (1.402) e com o PSDB (1104)".
O problema é que, para não serem acusados de recriar as coligações, os legisladores resolveram embutir regras diferentes nas federações. O benefício é o mesmo da coligação, mas há exigências como a de ficar junto por quatro anos e o acordo ser válido para todo o território nacional.
Significa que as eleições municipais de 2024 já estão nessa conta. Se o PSB se unir ao PT e ao PCdoB, agora, como vai fazer pra explicar uma aliança com o PL bolsonarista em alguma eleição municipal, onde já são aliados hoje, daqui a dois anos?
Ficou complicado demais
Tentando diferenciar a federação das coligações, para evitar críticas, seus idealizadores criaram um dispositivo e agora perceberam que ele é complexo pra operar porque não encaixa a prática anterior das coligações, das alianças de ocasião. Exigem um compromisso que não dá pra administrar em partidos gigantes com ramificações muito diversas tanto à esquerda quanto à direita.
Ajudou a centro-direita
Outra coisa é que a federação foi pensada pelo PCdoB para se salvar. A sigla não sobrevive sem dormir no sofá dos outros e ficaria sem teto com o fim das coligações. Mas, partidos médios e grandes enxergaram uma oportunidade. PSDB, MDB e União Brasil conversam pra se juntar, por exemplo. E podem "mandar no país" através do Congresso, por causa do tamanho que o grupo deve alcançar.