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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

Choro do cantor Gusttavo Lima é o de quem passou a vida sendo enganado. Dinheiro público não nasce em árvore

Cobrando até R$ 1,2 milhão por um show, o cantor está tendo valores investigados depois que um colega criticou artistas que já receberam dinheiro público pela Lei Rouanet e chamou a atenção para os contratos dos sertanejos.

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Igor Maciel

Publicado em 31/05/2022 às 14:59
Zé Neto, da dupla com Cristiano, e Gusttavo Lima - Reprodução/Banco Jc

Ao que parece, o cantor Gusttavo Lima, passou a vida inteira sendo enganado. Aparentemente, ele acreditava numa fantasia muito comum sobre dinheiro do contribuinte: o de que ele “nasce em árvore”.

Cobrando até R$ 1,2 milhão por um show, o cantor é um dos que já criticou artistas que recebem dinheiro pela Lei Rouanet.

Mas, os valores pagos em dinheiro publico, sem licitação, a ele e a outros artistas só virou assunto da Justiça depois que o colega dele, Zé Neto, outro cantor sertanejo, resolveu criticar quem recebia dinheiro público pela lei, associada ao PT e criticada por Bolsonaro (PL) desde antes da eleição de 2018.

O problema é que todos eles fazem shows para prefeituras, pagos com dinheiro público, sem licitação e com muito menos critérios do que os utilizados na Lei Rouanet.

No show em que criticava os artistas que recebem dinheiro público, o próprio Zé Neto (que faz dupla com Cristiano), recebeu R$ 400 mil, de dinheiro público.

Na cabeça deles, sabe-se lá como, o dinheiro que recebiam “vinha do povo”, mas não era verba pública porque não era da Rouanet.

Nascia em uma frondosa árvore, feita para manter a mansão e os carros dele, pelo jeito, sem sair do bolso de ninguém, talvez.

Agora que os shows estão sendo questionados e a Justiça o está investigando, Lima gravou vídeo chorando e dizendo que “nunca fez nada errado”.

Uma explicação para Gusttavo Lima, Zé Neto e todos os outros: essa coisa estranha chamada dinheiro público sai do bolso do contribuinte.

Sim, amigos, é o resultado do esforço de todo trabalhador brasileiro, desde o mais rico até o mais pobre.

Aquele sujeito que mora numa palafita e pagou alguns centavos de imposto no quilo de arroz está contribuindo para o mesmo cofre de onde sai o cachê do cantor, seja de sertanejo, de forró ou de axé.

E esse não é o problema, porque o acesso à cultura está na Constituição e precisa ser financiado pelo Estado. Não há crime nisso. Repetindo, não há um crime em pegar dinheiro de imposto e usar para a cultura.

O crime está no exagero, porque um dos princípios da administração pública é o da Eficiência e quando se gasta R$ 1,2 milhão com um só artista e toda uma cadeia cultural está sendo preterida, há um problema legal sim.

O "crime" que Gusttavo Lima, Zé Neto e outros cometem não é crime de verdade, porque hipocrisia ainda é apenas um problema moral. Bater no peito para dizer que não depende de dinheiro público é patético, , ainda mais quando prefeituras com 17 mil e com 8 mil habitantes, que vivem no aperto, gastam esses valores para bancar um show.

O dinheiro não vem da árvore, sai do imposto do trabalhador e é, adivinhe, dinheiro público.

É o que precisa ficar claro, em toda essa discussão. Tanto o cachê que o artista recebe quanto o dinheiro para a Lei Rouanet saem do mesmo local, um lugar chamado suor do trabalhador.

Então, não precisa chorar, é só entender como as coisas são.

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