Dos 513 deputados federais, 17 votaram contra a PEC Kamikaze. A oposição votou reclamando, mas aprovou.
Quem acompanhou a votação ao vivo pode ter percebido como é sutil a arte da covardia.
Ser covarde é uma arte, sim.
"As contas do país vão ficar ainda mais comprometidas", a "economia pode entrar em parafuso", Bolsonaro (PL) "criou benesses apenas para tentar melhorar seus números e tentar a reeleição". Não é a coluna que está afirmando isso, foram os deputados do PT, do PSB e de outras siglas de oposição.
O curioso foi ouvir essas argumentações seguidas pelo voto “sim”.
Isso “é ruim, mas eu aprovo”.
O erro, com suas várias nuances, que vão do equívoco desprendido ao absurdo intencional, é indicador de caráter ou de repertório pessoal duvidosos. Apenas isso.
Mas, a covardia é uma arte singular porque depende de uma grande habilidade para dissimular a realidade, considerando o erro como “mal menor” ou como uma “vitória dentro da derrota”.
É ignorar que a única vitória de uma derrota é o aprendizado. E, se agora estamos repetindo Dilma em 2014, porque é uma situação muito parecida, não houve aprendizado nenhum.
Por estarmos em um período eleitoral, quase ninguém teve coragem de votar contra aquilo que considerava danoso. O único partido que orientou o “não” à proposta foi o recém-nascido e quase extinto Novo.
Fora dele, um ou outro deputado do PSDB, PSD e União Brasil teve a coragem de votar contra.
Quase todos os que votaram contra a PEC, pela coragem de assumir que ela é ruim ao país no médio prazo, têm poucas chances de reeleição. E se tiverem chance, serão atacados pela escolha que fizeram.
Talvez fosse importante retroceder na História e descobrir quando foi que a covardia, neste país imenso, passou a dar mais votos do que a coragem.
Talvez tenhamos começado a dar errado nesse ponto.
Descobrir quando foi que a covardia passou a ser um ativo político de grande valor é importante para saber se ainda temos alguma chance para o futuro.
Os momentos difíceis só podem ser enfrentados com decisões difíceis e com coragem. O que vimos no Congresso foi um tango entre a covardia e o oportunismo.
E não há representação melhor que um tango para essa PEC.
Alguém já leu sobre a Argentina hoje?