Cena Política: Sobre confiar no dinheiro e esquecer quem controla o cofre

Veja a coluna Cena Política deste domingo
Igor Maciel
Publicado em 25/09/2022 às 0:01
Esse tal dinheiro Foto: MARCOS SANTOS/USP IMAGENS


Apesar de toda a perseguição sofrida durante a campanha, com atraso de recursos e sendo vetado nos programas de Rádio e TV, Mendonça Filho (UB) continua sendo favorito para uma cadeira na Câmara Federal em Pernambuco. Analistas com quem a coluna conversou apostam que ele disputa com Fernando Filho (UB) a primeira colocação na chapa do partido deles.

Mas, a realidade e algumas pesquisas pelo Brasil mostram como o sistema eleitoral brasileiro tende a empurrar o país no caminho inverso de uma maturidade política e na contramão do desenvolvimento. E o União Brasil é um exemplo disso. Os candidatos que hoje pedem votos o fazem dentro de um modelo que depende do dinheiro e quase todos acabam tomando decisões equivocadas por causa disso. O caso do UB pode ser educativo.

Quando “juntaram as escovas”, PSL e DEM pretendiam formar a maior bancada do Brasil e garantir a maior fatia do fundão partidário e eleitoral nesta eleição. Uma coisa empurraria a outra. Quem decidia na época o fez pensando em seus próprios botões. Luciano Bivar (UB), presidente do PSL, queria seguir tendo o poder de “dono de partido” que alcançou após ser impulsionado pela onda de Bolsonaro (PL) em 2018. Para ele, que iria ficar com o PSL desidratado na janela partidária, quando os bolsonaristas fossem embora (e foram), o negócio era muito bom.

Para o DEM, que não era partido de um dono só, a vantagem era apenas para alguns, mas os outros foram convencidos ou levados pela maré. ACM Neto (UB), que presidia o Democratas, prestes a se lançar candidato ao governo, com aprovação recorde na prefeitura de Salvador, queria o dinheiro para fazer campanha. Era muito, não dava para ignorar aquela oportunidade. E assim foi feito.

Hoje, além das dificuldades já mencionadas em Pernambuco, o próprio ACM, na Bahia, também enfrenta problemas e a eleição quase certa virou uma incerteza imensa. O candidato do PT se aproxima e não tem dinheiro que derrube a onda petista por lá, o que deve levar a disputa para um dificílimo segundo turno.

Na candidatura presidencial, Soraya Thronicke (UB) chegou a suspender a campanha por, acreditem, falta de recursos. O União Brasil, comandado nacionalmente pelo deputado pernambucano Luciano Bivar (UB), recebeu mais de R$ 780 milhões apenas para fazer campanha este ano. Juntando com o Fundo Partidário regular, a conversa entra na casa do bilhão. Confiou-se no dinheiro e esqueceram que há homens controlando ele.

A lição que fica para todos os que "apostaram no cofre" da fusão DEM/PSL e não observaram o que estava ao redor e os atores envolvidos é elementar e precisa ser bem fixada para o futuro: dinheiro serve para comprar, investir e até para queimar, mas nunca para confiar.

Debate

Quem acompanhou o debate do SBT, com CNN, Estadão, Veja e outras empresas de comunicação, no sábado (24), apesar da ausência de Lula (PT), viu discussões, embates e o maior número de direitos de resposta concedidos nos últimos tempos em um programa desse tipo. A maior parte para o presidente Jair Bolsonaro (PL) que foi, na falta do petista, o maior alvo dos outros. O que se repetiu, em relação ao primeiro, na Band, foram as frases de efeito de Soraya Thronicke (UB). Ela brincou de “o que é, o que é?” com um colega e usou um de seus direitos de resposta para provocar Bolsonaro: “Não cutuque a onça com sua vara curta”. Outro fato que se repetiu foi o bom desempenho de Simone Tebet (MDB). No primeiro debate ela foi apontada pelo Datafolha como a grande vencedora do debate. Dessa vez foi a Quaest, atestando que a emedebista foi a que mais chamou atenção positivamente.

Lula

A ausência de Lula no debate, que muitos passaram a semana tentando explicar e criando milhares de teorias para justificar, acreditem, tem a ver com o desempenho dele. Há um mito sobre Lula ser um grande debatedor. Ele nunca foi bem nesse formato de programa e sempre que pode se ausenta. Lula só é um bom orador falando para uma plateia que concorda com o que ele diz ou no ambiente controlado de uma entrevista. Fora disso, ele vai mal. No último debate, ele cometeu erros e arranjou briga com representantes do Agronegócio. De gafe em gafe se destrói uma vantagem. Espera-se que no último debate, o da Globo, ele compareça. A ver.

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