O famoso médium brasileiro Chico Xavier, conta-se, tinha uma plaquinha com uma frase na cabeceira da cama: “Isso também passa”. Questionado, certa vez, explicou que a frase tinha a dupla função de ajudar a manter a fé em Deus nos momentos difíceis e fortalecer a humildade nos momentos de felicidade. Quando tudo está ruim, tenha fé que “isso também passa” e quando tudo está bom, seja humilde e saiba administrar a situação, porque “isso também passa”.
Nesse mundo em que vivemos, muito mais difícil é administrar o sucesso do que o fracasso. E, na política, gerir o sucesso é pura questão de sobrevivência. Raquel Lyra (PSDB) passou toda a eleição de primeiro turno sendo apontada como uma das candidatas que menos conseguiu agregar forças políticas do estado para seu palanque. Só não foi pior que Anderson Ferreira (PL), encastelado no PL, mas teve menos adesões que Miguel Coelho (UB), Marília Arraes (SD) e Danilo Cabral (PSB). Sempre foi apontada como a candidatura que iria derreter.
Na bolsa de apostas da bancada federal, no início da campanha, deputados conversavam no embarque do aeroporto e garantiam que ela terminaria em quarto lugar, talvez em quinto. Eis que a resiliência dela transformou o resultado. Isso também passa, e metade dos deputados que apostaram contra a tucana nem foram reeleitos. Ela soube resistir ao falho vaticínio do fracasso e está no segundo turno.
Resistir ao fracasso não faz de você um sucesso, ainda mais numa eleição de turno duplo, mas a expectativa de poder atrai, como açúcar, as formigas que buscam energia. Por causa da tragédia que viveu e vive a candidata, com a morte do marido no dia da eleição, a vice, Priscila Krause (Cidadania) e o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania) se dividiram em coordenar a campanha até que ela se restabeleça, o que deve acontecer na segunda-feira (10). Dezenas de prefeitos, atraídos, logo começaram a declarar apoio e esses apoios estão sendo recebidos gradualmente, oficializados pelos dois que já posaram para fotos com o senador Jarbas Vasconcelos (MDB), por exemplo. O prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Keko do Armazém (PL), foi outro que já fez fotos com a vice. Dentro de suas possibilidades, Priscila e Daniel fazem um trabalho hercúleo.
Chama a atenção é que, até o momento, não houve nenhuma foto ou encontro com o candidato Miguel Coelho (UB). A apuração nem havia terminado oficialmente quando Miguel admitiu a derrota e declarou apoio à Raquel, na noite do domingo. Mas, até agora, nem uma palavra com Miguel e nem uma foto, nada que oficializasse o apoio. O candidato teve mais de 800 mil votos. É curioso que algo desse porte seja “deixado para depois”.
Chama a atenção, principalmente, porque Miguel também declarou voto em Bolsonaro (PL) para a presidência da República. A coluna apurou que isso deixou integrantes da campanha de Raquel ressabiados com a possibilidade de o palanque ficar associado ao atual presidente e candidato à reeleição que tem uma rejeição altíssima em Pernambuco.
Pouco se sabe até onde estão, de verdade, preocupados com a candidatura de Raquel Lyra ou sobre como irão se apresentar, eles próprios, no futuro. Porque em se tratando da campanha atual, não se ignoram 800 mil votos e não se pode ignorar os 30% que os candidatos bolsonaristas chegaram a ter em Pernambuco.
Isso significa assumir o bolsonarismo? De maneira alguma. Marília poderá receber o apoio do PSB em Pernambuco, com sua rejeição tão alta quanto a do bolsonarismo, com o peso de Paulo Câmara (PSB). É possível e isso não a carimba como socialista.
Raquel não precisa pedir votos para Bolsonaro, como já ficou claro que não fará, mas administrar o sucesso é algo difícil, que exige humildade, inclusive, para receber com alegria o apoio de quem você, com respeito, não pode apoiar.
E não por ser Bolsonaro ou Lula (PT), mas porque o estado já sofreu demais nos últimos anos, tendo que depender da amizade ou da inimizade com o presidente da vez. O candidato a presidente das duas candidatas, aliás, deveria se chamar “Pernambuco”.
E para fazer disso uma realidade, focar no futuro do estado e não nos projetos futuros de um nome ou grupo político, é preciso conversar com todas as forças. Porque isso também passa.