O samba de Alexandre e a chance de Paulo Câmara com Lula já se preparando para derrubar leis

Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (14)
Igor Maciel
Publicado em 14/12/2022 às 0:01
Lula (PT) Foto: Reprodução/UOL


Há o permitido, o proibido, o recomendado e o não recomendado. Mas, a maior expressão da singeleza nas atitudes mais efetivas, dentro da vida pública, é avaliar o que convém e o que não convém.

Imagine que você é um ministro de tribunais superiores e está sendo usado como alvo por grupos políticos que querem atacar a credibilidade das instituições que você representa. Você é o caminho, sem ser a verdade e a vida propriamente ditas, mas é o caminho pelo qual um grupo com interesses antidemocráticos, tenta legitimar suas ações.

Agora, imagine que você deu ordem para que um integrante desse grupo amalucado fosse preso pela Polícia Federal por ameaçar as instituições, ampliando a raiva deles.

Nesse meio tempo, você cumpre seu dever dando posse como presidente ao sujeito que é o principal motivo da derrota desse grupo.

Num só dia, você prendeu um amigo e confirmou a vitória do inimigo deles, que já estão na rua, entre ilusões, delírios e interesses privados, alimentados por uma crise de dissonância cognitiva que faz pensar sobre os limites entre loucura e realidade.

É de se pensar que vão estar chateados e, mais que isso, insensatos que são, devem ficar revoltados.

Agora, responda: após toda essa agenda, você iria para casa tomar um banho quente e ouvir música, ciente do cumprimento de seu dever, para deixar a poeira baixar após tanta tensão, convicto de que a discrição e o distanciamento pessoal são a base da credibilidade de um juiz?

Ou iria para uma roda de samba comemorar?

Alexandre de Moraes não é burro, nem é ingênuo. O samba não lhe é proibido, nem a alegria. Mas, há posições públicas em que é preciso entender o que convém e o que não convém.

A tal roda de samba a que Lula (PT) e Moraes foram e estavam juntos, aconteceu logo após a diplomação do presidente eleito, numa solenidade presidida por Moraes.

A festa foi na casa de Kakay, também conhecido como Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado que costuma prestar serviço a políticos, muitos deles enrolados em processos no STF, integrado por Moraes.

Kakay estava na casa dele e não tem culpa de nada nesse episódio, nem Lula que estava lá para comemorar e tem esse direito, ainda.

Mas o que Moraes foi fazer lá é algo que só a ausência, mesmo que furtiva, do senso de responsabilidade com a própria posição pode explicar.

Mesmo que não seja a intenção, pode soar também como deboche. E deboche é algo que não convém, podendo ser punido pelo Conselho Nacional de Justiça.

CNJ, aliás, criado por Lula e do qual Moraes já fez parte.

Messias, Mercadante e Paulo Câmara

O que Messias (ou “Bessias”, como ficou conhecido quando era assistente jurídico de Dilma), Aloizio Mercadante (PT) e Paulo Câmara (PSB) têm em comum para 2023? O futuro de um fala sobre o outro.

É o seguinte: durante reunião de encerramento dos Grupos de Trabalho da transição, nesta terça-feira (13), Lula (PT) confirmou que Jorge Messias será o Advogado Geral da União.

Messias é aquele citado por DIlma Rousseff (PT) quando a então presidente tentava salvar Lula de ser preso nomeando ele para a Casa Civil. Numa ligação, vazada pelo ex-juiz Sergio Moro, ela avisa a Lula que “o Bessias está levando o documento para ele assinar”. Dilma estava gripada e o nome do novo AGU ficou famoso com um “B” no lugar do “M”.

Jorge Messias, como AGU, terá a função de encaminhar as Medidas Provisórias de início de governo, criando uma nova estrutura ministerial e também fazendo modificações em leis. Uma delas é a “Lei das Estatais” que, entre outras coisas, proíbe aos que ocuparam cargos com poder de decisão em partidos políticos de serem indicados para a direção dessas empresas.

Certamente, essa regra vai ser extinta porque Lula já confirmou o nome de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES, também nesta terça-feira. Mercadante é da cúpula do PT nacional e não poderia assumir o cargo sob a redação atual da Lei das Estatais, criada no auge da Operação Lava-Jato para coibir o tráfico de influência entre partidos e empresas com participação da União.

Quem também deve se beneficiar com a mudança da lei é o senador Jean Paul Prates (PT), cotado para assumir a Petrobras.

O que Paulo Câmara tem a ver com tudo isso? Como vice-presidente do PSB, Paulo não poderia ser indicado para cargo em uma estatal, que seria a alternativa para a falta de um ministério. O governador de Pernambuco chegou a ter seu nome ventilado para o Banco do Nordeste, mas havia esse impedimento. Agora, não existe mais.

Se ele vai ser indicado para um banco, como se cogitou, é outra história. Mas, a desculpa será extinta.

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