Mais do que garantir a nomeação de Aloizio Mercadante no BNDES, a mudança na Lei das Estatais feita para facilitar a vida de Lula (PT) é a realização do maior desejo de Bolsonaro (PL) nos últimos meses.
Para quem não lembra, a lei é o motivo pelo qual o presidente não conseguiu transformar a Petrobras em puxadinho do centrão. É também o motivo pelo qual Bolsonaro não conseguiu interferir nas decisões da empresa e não conseguiu trocar presidentes quando eles defendiam os interesses da estatal e não os dele próprio, declaradamente eleitoreiros.
Bolsonaro tentou, encomendou uma Medida Provisória para atropelar o obstáculo, mas não conseguiu porque estava em fim de mandato, não tinha garantia de vitória e não podia fazer bobagem, sendo irresponsável com a gestão e as contas da empresa.
Se tivesse possibilidade teria feito as modificações? Com certeza. Mas, a lei impediu.
Agora, o “favor” que Arthur Lira (PP) fez a Lula garante a nomeação de quem o petista quiser, principalmente dos nomes que o próprio Arthur Lira deseja indicar para as empresas, onde corre muito dinheiro, muito mesmo.
Mas, sejamos francos, quando políticos derrubam uma lei feita para blindar empresas públicas das interferências não republicanas deles próprios, os políticos, sabemos que não tem como dar certo. É como se um pastor alemão fosse o responsável pela corrente na grade que o impede de morder alguém. Alguém vai se machucar.
Não foi por acaso que as ações da Petrobras chegaram a cair quase 8% no dia seguinte à mudança na Lei que foi, praticamente, ferida de morte. Outras empresas em que a União é majoritária também tiveram quedas.
Todo mundo sabe que o prejuízo será grande quando a política invadir essas empresas novamente. O que já é uma realidade concreta.
Da última vez, a corrupção quase quebrou a Petrobras.
Mas o incrível é a reação de todos (ou a falta dela). Quando Bolsonaro propôs a Medida Provisória para modificar a lei, no meio do ano, foi como se tivesse dito que ia "vender o Amazonas para um extraterrestre". Todo mundo achou “absurdo”, houve gritaria e confusão como se o mundo fosse acabar e o senso de realidade tivesse sumido por um ralo.
Agora, há um quase constrangimento silencioso. De repente, passou a ser algo “normal”, “esperado”. Tem gente até elogiando. Incrível, realmente incrível.
É como voltar no tempo e descobrir, absurdo por absurdo nesse quase início de governo Lula, como foi que o Brasil ficou tão revoltado naquela época ao ponto de eleger Bolsonaro.