O Brasil é um país esquisito no qual reacionários de direita se dizem conservadores, reacionários de esquerda se dizem revolucionários e operadores de velhas políticas se dizem progressistas.
Em todos os casos, tenta-se retornar a um passado no qual essas ideias eram aceitas pelo senso comum, mesmo que fossem uma tragédia ética, administrativa ou humana. Como a realidade é dinâmica e maltrata os que a ignoram, todo mundo fica “nu” em algum momento.
Nos últimos quatro anos em que o discurso reacionário de direita cavalgou o poder, religião, militarismo e política se misturaram além da conta, tentando impor a ideia do que é certo segundo suas crenças, baseadas mais em hipocrisia do que em ética e humanismo. Com o resultado da eleição de 2022, esse grupo ficou nu, por agora.
Ao longo dos anos, o discurso reacionário de esquerda, em partidos como PCO e similares, sobrevive no país entre o ridículo das urnas e as migalhas deixadas pelo PT no poder. São pessoas que ainda acreditam em “luta de classes”, “imperialismo norte-americano” e outras realidades extintas desde o fim dos anos 1980. A nudez, nesses casos, parece permanente, mas nunca se sabe.
O bolsonarismo também parecia algo sem chance de vingar, até 2018.
O PT talvez seja o partido que mais teve sucesso no Brasil nos últimos anos porque consegue incorporar o conservadorismo de esquerda e de direita em suas entranhas, enquanto pratica o tipo de política de fisiologismo que manteve o poder de grandes oligarquias ao longo de toda a existência do Brasil como país.
E, isso, enquanto segura uma bandeira “progressista”.
Mas, e o PT não fica nu, igual aos outros? O PT está nu desde que Lula foi eleito presidente pela primeira vez. E nunca mais houve preocupação em se vestir, porque os petistas descobriram algo que Hans Christian Andersen já tinha percebido.
Andersen é o autor do famoso conto “A Roupa Nova do Rei” em que um monarca, enganado por dois vigaristas, desfila com roupas que “só os inteligentes podem ver”. Os súditos aplaudem a inexistente roupa do rei, até que uma criança inocente grita: “o rei está nu”. Mesmo assim, o rei continua desfilando e a corte segue aplaudindo, porque ninguém quer parecer burro.
O que o PT aprendeu foi que é mais fácil manter a fantasia da inteligência de seus seguidores do que ter que se vestir. Sempre que alguém discorda dos petistas, acaba tratado com desprezo. Quem diverge é burro e mal intencionado. Quem concorda, é sempre genial.
Mas, como as práticas políticas são as mais antigas possíveis, com o PT no poder sempre há momentos que servem de oportunidades para alguma criança gritar que o “rei está nu”.
Na briga interna do União Brasil, por exemplo, a decisão que for tomada sobre o ministério do Turismo, ocupado por Daniela Carneiro (UB), pode deixar o fisiologismo petista exposto.
Quando ela foi indicada, quase perdeu o cargo pelas suspeitas de que teria ligação com o crime organizado no Rio de Janeiro. Na época, Lula (PT) interrompeu a fritura porque a permanência dela era importante para agradar Luciano Bivar (UB) e segurar o União Brasil na base do governo. Mas é preciso não parecer que está nu, e Lula, publicamente, disse que não iria exonerar a ministra porque "o trabalho de Daniela era muito importante e não havia provas da ligação dela com a milícia".
Agora, Daniela está deixando o União Brasil e o deputado Luciano Bivar, presidente nacional, avisou que “o ministério é da cota do partido”, não dela. O aviso é que se ela sair da sigla, Lula terá que substituir a ministra por outra indicação de Bivar, ou perde o apoio que tem hoje no Congresso.
Como sempre, o presidente resolverá a questão como se estivesse vestido com belíssimas roupas, mas qualquer criança poderá gritar: “o rei está nu!”
E não estará mentindo.
Como a coluna adiantou que aconteceria, a Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou o remanejamento de R$ 5 bilhões que a governadora queria. Mas, antes, aprovou a liberação para que eles próprios possam legislar em matérias financeiras e tributárias e também um outro projeto aumentando o percentual que eles próprios receberão em emendas.
O primeiro era uma luta antiga do deputado Alberto Feitosa (PL). Só os legislativos de Pernambuco e do Acre ainda não podiam tratar desses temas nas assembleias. A mudança é justa.
Já o segundo projeto foi uma moeda de troca. E só.
Todos os projetos tiveram os mesmos 42 votos.
A decisão da Prefeitura do Recife de construir um parque urbano na área em que um empreendimento, com expectativa de geração de centenas de empregos, estava sendo projetado, evidencia uma certa seletividade dos recifenses para as questões urbanas.
Desde que o projeto do empreendimento comercial ficou conhecido, Antônio Campos, então presidente da Fundaj indicado pela gestão Bolsonaro para o posto, abriu trincheira e começou a brigar para evitar a construção. Ninguém deu muita atenção e nem se chegou a dar muito apoio.
Agora, quando João Campos (PSB) anunciou que o empreendimento não seria construído e um parque seria feito no lugar, houve gente suspirando de emoção.