O que um slogan famoso pode ensinar à governadora na relação com os deputados

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (25)
Igor Maciel
Publicado em 24/05/2023 às 20:00
Raquel Lyra (PSDB) Foto: GUGA MATOS/JC IMAGEM


Um dos slogans mais famosos do Brasil é das Casas José Araújo: “Onde quem manda é o freguês”. A mensagem é simples, mas ensina bastante. Até quando se fala de política.

A governadora Raquel Lyra (PSDB) sofreu uma derrota significativa com a escolha de Rodrigo Novaes (PSB) para o TCE no lugar de Joaquim Lira (PV). A vitória foi de Novaes, foi de João Campos (PSB) e de Álvaro Porto (PSDB).

No fim, a Alepe mandou recados de independência, embora a confunda com birra, e também teve o que comemorar. Diogo Moraes (PSB), que assume a Alepe no lugar do novo conselheiro, também comemora. O que Raquel pode comemorar desse episódio?

Fez um aceno ao PT, já que o suplente de Joaquim Lira seria um petista? É verdade, mas no final da votação o PT não tinha um novo deputado nomeado. Quanto tempo dura a simpatia por uma ação sem resultados práticos?

Mais do que uma derrota da governadora Raquel Lyra, a vitória do PSB na indicação ao TCE foi uma derrota do formato que esse governo escolheu para a sua articulação política. Não está funcionando.

Todos os indícios iniciais davam conta de que não estava funcionando e é preciso dizer que agora não há mais dúvidas. Esse jeito diferente de fazer as coisas, de articular, não está funcionando. Os deputados estavam acostumados a um modelo de diálogo com o Palácio que a atual governadora, a vice-governadora e o secretário da Casa Civil tentaram modificar. Não deu certo.

E um dos motivos pode ser a dificuldade em aceitar a falência do idealismo nas relações republicanas entre Legislativo e Executivo. Os deputados são pragmáticos. Raquel e Priscila Krause (Cidadania) já foram deputadas estaduais e deveriam saber disso. Priscila, que passou muitos anos na oposição, sempre foi crítica da forma como o PSB fazia sua articulação na Casa.

E se estiver havendo agora um choque entre o que um lado está acostumado (pragmático) e o que o outro lado acha que é correto ou ideal? Nesse caso, vale a máxima das Casas José Araújo e “quem manda é o freguês”. Não adianta oferecer corte de linho para quem quer fazer vestido de chita. Não adianta oferecer conversa bonita para quem busca resultados práticos na articulação.

Décadas atrás já se falou, não sem muita polêmica, sobre a perda de tempo que era forçar as populações de alguns países da África, imersas em culturas tribais, com hierarquia vertical, a adotarem a democracia. Pessoas defendiam isso como se fossem missionárias da civilização. Não eram. A história mostrou que se você força o regime democrático em sociedades com cultura tribal, os regimes governamentais tendem a se transformar em ditaduras, por causa da verticalização hierárquica a que a sociedade está acostumada.

Os deputados são civilizados, sabem o que é certo e errado e querem uma relação de parceria com o Executivo, não querem que ninguém vá inventar a roda pra eles. E desde que seja algo honesto, não há problema em conversar com eles da maneira que estão acostumados, da forma que eles preferem, para que haja uma aproximação e que essa aproximação resulte em melhorias para o povo de Pernambuco.

O que não pode é transformar o Legislativo em palco para batalhas entre dois poderes que deveriam ser harmônicos e não antagônicos.

O certo está errado

Agora, quer entender por que é fácil identificar que toda a crise entre os dois poderes deriva da dificuldade da gestão estadual com a articulação política? Por que a articulação política é a origem de todas as dificuldades?

Repare em todos os que mais comemoraram a vitória de Rodrigo Novaes na disputa pelo TCE.

Álvaro Porto é do PSDB, do partido da governadora, foi um dos grandes articuladores da campanha e que apostou nela como candidata desde o início.

Rodrigo Novaes contrariou o próprio PSB e apoiou Raquel Lyra no segundo turno da eleição.

Miguel Coelho (que também comemorou bastante nas redes sociais) foi o primeiro candidato a reconhecer a derrota e apoiar Raquel no segundo turno em 2022.

Todos tiveram problemas com a articulação do governo depois que ela venceu a eleição, todos se distanciaram. Talvez tenha algo de muito errado no que o governo acredita ser o certo.

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