Lula atua como chefe de Estado e ignora Governo, embora tenha se candidatado para as duas funções

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (20)
Igor Maciel
Publicado em 19/06/2023 às 20:00
Lula e Janja Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert


São cada vez mais frequentes os relatos de intromissão indevida da primeira-dama Rosângela Silva no governo Lula.

O Estadão publicou uma reportagem com alguns episódios desse protagonismo excessivo de Janja em áreas que vão de Publicidade até Economia.

No texto, publicado no fim de semana, alguns dos personagens envolvidos, tentando não virar alvo de vingança, chegaram a enviar notas negando essas interferências, mas as histórias estão se sucedendo há mais de seis meses e algumas consequências dessas intromissões vieram a público. Como no caso da taxação dos sites de compras chineses, quando a primeira-dama praticamente desautorizou medidas que estavam prontas para anúncio pelo ministério da Fazenda. No fim, as medidas foram suspensas com ordem do presidente Lula devido à repercussão negativa que "Janja percebeu em suas redes sociais".

Quem acompanha a articulação política capenga desta gestão afirma que uma das dificuldades é contar com o presidente em reuniões, já que Janja estaria limitando a atuação de Lula em horários fora do expediente, com a justificativa de que ele precisa ser preservado.

É nesse contexto de bastidor e numa semana das mais importantes do ano para o Executivo, o Legislativo e o Judiciário que Lula e Janja resolveram pegar o avião presidencial e partir para Roma e Paris, num passeio cuja agenda é bem questionável para o preço que o contribuinte paga quando precisa colocar o avião presidencial no ar.

No Brasil, esta semana, acontece a apresentação do relatório da Reforma Tributária pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Nesta terça-feira (20) começa a reunião do Copom que deve definir queda nos juros. Esta semana também deve acontecer votação importante sobre a desoneração da folha. O novo Marco Fiscal também deve ser votado no plenário da Câmara esta semana. Na quinta-feira (22), o TSE deve começar a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve ficar inelegível.

Quer mais? Esta semana é a sabatina do indicado de Lula ao STF no Senado. Mais? A base aliada quer uma definição sobre o ministério do Turismo. A pasta não funciona, embora já estivesse quase parada, porque a ministra no cargo já sabe que vai sair e o próximo ainda não foi oficializado no cargo. Tudo isso acontece em meio à CPMI do Golpe, em curso no Congresso.

Enquanto isso, Lula estará se reunindo na Itália com o famoso sociólogo Domenico de Masi, criador do conceito de “Ócio Criativo”. De Masi é pioneiro em ideias que hoje são tendência no mundo do trabalho, mas é um encontro que certamente interessa mais a Janja, também socióloga e que deve ter estudado livros do italiano na faculdade, do que a Lula e às políticas de trabalho do Brasil.

Fora isso, o presidente e a primeira-dama vão se encontrar com o presidente da Itália e com o Papa Francisco. Depois, vão a um encontro com o presidente da França. A agenda tem até discurso em um show que acontecerá na França, com a banda Coldplay e o cantor Lenny Kravitz.

Tudo muito bom, tudo muito bonito. O problema é que, em seis meses, o presidente, sempre acompanhado da primeira-dama, já viajou para Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido, Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai e Emirados Árabes Unidos.

Com o presidente da França, só nos últimos meses, Lula já se encontrou duas vezes. Haja assunto para colocar em dia. Dessa vez a pauta será o acordo da UE com o Mercosul. Algo que poderia ser resolvido com uma ligação? Provavelmente. Mas, aí qual seria o argumento para atravessar o Atlântico?

A informação é que para esta ida de agora a agenda foi sendo montada depois que a viagem já estava acertada.

Lula parece estar assumindo o papel de Chefe de Estado, aquele que representa o país, e não tem nenhuma empolgação pelas agendas de Chefe de Governo, aquele que administra os abacaxis internos.

O que é um problema, já que ele foi eleito para as duas funções dentro do regime presidencialista em vigor, em crise exatamente por causa da dificuldade de articulação que enfrentamos.

Lula não estar disposto a ser Chefe de Governo é um problema maior ainda porque não existe ninguém nesta gestão, além do presidente, que tenha autonomia para fazer o papel devido, enquanto o Chefe de Estado viaja. Se Haddad assumir o comando, é cortado pelo PT. Se Alckmin (PSB) tentar tomar a frente de verdade, por ser vice, vai acabar em guerra com os petistas.

Pelo que dizem, quem anda se esforçando para fazer esse papel é Janja, com quem nem os petistas tem coragem de brigar. Mas aí ela teria que ficar no Brasil quando Lula viajasse, o que tem sido difícil.

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