A impressão é a de que um extraterrestre pousou no estúdio da TV Cultura e todos queriam saber exatamente como alguém conseguiu assumir o posto máximo do Executivo em um estado do Nordeste, no ano santo de 2022, sem apoio de Lula (PT), que é tão forte por essas bandas.
A governadora Raquel Lyra (PSDB) passou os primeiros 15 minutos do Roda Viva respondendo sobre isso como se tivesse conseguido descobrir o fogo e precisasse explicar aos outros o que fazer. Como se tivesse vindo de outro planeta.
Existe vida fora da polarização que rende cliques na internet. “Mas o que essas pessoas comem?”, perguntavam todos de certa forma.
A imprensa mergulhou tanto no maniqueísmo político, no qual é preciso ter a representação do bem e do mal para legitimar a existência, que soa absurdo alguém não tratar como aliado ou inimigo nenhuma das duas figuras.
A governadora precisou repetir e repetir a necessidade de tratar de soluções para o estado, de maneira republicana, independente de posição política.
Mas as perguntas, muitas, continuaram nesse tom. Todos deveriam ser republicanos, concorda-se. “Mas o que essas pessoas comem?”.
A entrevista ao Roda Viva foi uma oportunidade para a governadora de Pernambuco se mostrar para o Brasil. Ela fez muitos elogios ao presidente nacional do PSDB, mas ficou muito clara a expectativa de que ela tome a frente desse grupo em algum momento.
Não vai acontecer isso tão cedo e depende muito de duas coisas: a maneira como ela vai aproveitar oportunidades nacionais como a do Roda Viva e os resultados da eleição de 2024.
O tamanho futuro do PSDB vai dizer o que vale a pena fazer na campanha de 2026 e, depois, em 2030.
Raquel citou uma frase que ouviu do pai, ex-prefeito de Caruaru, quando ele disse que não podia ajudar muito na eleição da prefeitura: “Vá, mas eu não tenho voto de prateleira para lhe dar”.
Foi a resposta, no Roda Viva, para o momento em que se apontou que ela veio de uma família de políticos, como se todas as conquistas tivessem acontecido em ambientes de herança.
A frase realmente foi dita por João Lyra (PSDB) em 2016.
Em 2020, não foi necessário dizer nada, porque ela tinha uma popularidade muito alta e a reeleição certa.
Já em 2022, a frase foi repetida pelo mesmo João Lyra que já tinha sido governador de Pernambuco também. “Vá, mas eu não tenho voto de prateleira para você”.
E ela foi.
Respondendo ao diretor de redação do Jornal do Commercio, Laurindo Ferreira, que estava no estúdio entre os entrevistadores, Raquel negou que seja controladora ou centralizadora.
Atribuiu essa crítica, feita com rotina por muitos dos que trabalham perto dela e dos que dependem de articulação política junto ao governo, ao machismo.
É preciso dizer que a reclamação pelo excesso de centralização é constante no atual governo. É feita por muitas mulheres também, inclusive de dentro do Palácio.
É verdade que a cultura machista faz com que todos, até mulheres, reclamem mais disso quando a gestora é uma mulher do que quando o gestor faz o mesmo, sendo homem.
Mas não quer dizer que o problema não exista, não precise ser observado e corrigido para o bem de todos.
Na entrevista, Raquel Lyra evitou confirmar ou negar qualquer especulação sobre as eleições municipais e ouviu de uma jornalista que o prefeito de Caruaru, seu ex-vice, estaria se aproximando até do PSB.
Rodrigo Pinheiro está no PSDB e tem dito nos bastidores que será candidato à reeleição, com ou sem o apoio da governadora.
Ele quer ser o candidato dela, mas não abriu mão de estar preparado em qualquer cenário. Isso inclui até mudar de sigla.
No camarote da prefeitura de Caruaru, no São João, sábado passado, estavam alguns integrantes do PT, acompanhando a senadora Teresa Leitão (PT) que visitava a cidade.
Rodrigo Pinheiro conversou bastante com a senadora petista e posou para fotos.
O PT tem dito que terá candidato à prefeitura na cidade. Hoje, o nome seria o de Léo Bulhões (PT), que estava no encontro com o prefeito.