Desde que o texto preliminar da Reforma Tributária foi lido pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), há cerca de duas semanas, iniciou-se uma mobilização para evitar que Pernambuco fosse prejudicado com o fim dos incentivos à indústria automotiva da região. Na primeira leitura, Braga recolocou a extensão dos benefícios que haviam sido retirados na Câmara dos Deputados, mas os limitou à produção de carros elétricos. Isso não atendia Pernambuco.
Na leitura
Na mesma noite em que a leitura foi feita, Raquel Lyra (PSDB) foi a campo para tentar reverter a situação. A governadora enviou ofícios para o presidente Lula (PT), para os senadores, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e para o relator da PEC. Logo depois, conversou com o Jornal do Commercio para detalhar o tamanho do problema. Na conversa com este colunista, relatou que era preciso uma mobilização forte ou haveria prejuízo.
Mobilização
A governadora amanheceu o dia seguinte fazendo ligações e, em seguida, conversou com a Rádio Jornal. Ao programa Passando a Limpo, repetiu a necessidade de uma mobilização forte para que Pernambuco não ficasse ameaçado em dezenas de milhares de empregos que são gerados por empresas automotivas no estado, não só em Goiana, mas também no Agreste.
Funcionou
Finalmente, nas horas que antecederam a votação na CCJ, Lula mandou um recado ao relator: “Pernambuco não deveria ser prejudicado”. Braga, então, incluiu “veículos a etanol” no texto e resolveu a questão. Agora é aguardar as votações que ainda irão acontecer, inclusive na Câmara, até que todo o texto seja confirmado sem novas alterações. E esperar que nenhum deputado de Pernambuco volte a atrapalhar a aprovação, como já aconteceu em julho, quando faltou um voto para o benefício passar.
Não é relativo
Se é o caso de anular questões, dispensar os tais “professores independentes” que fazem as provas ou passar uma bronca no ministro da Educação, é outra discussão, mas querer tratar como algo normal as questões que criminalizam o agro brasileiro é relativizar a desonestidade intelectual com viés ideológico explícita numa prova que deveria ser acessível a todos e serve como parâmetro para definir quem pode e quem não pode entrar na universidade.
Sustenta
É ainda, mais que isso, ignorar a importância do agronegócio para a economia brasileira. O setor é responsável por 24% do PIB brasileiro. O agro, sozinho, tem previsão de crescimento de 13% em 2023, enquanto o Brasil vai ficar bem feliz se conseguir crescer ao menos 3,5% este ano. Sem o agro, teríamos déficit em 2023 e ainda levaríamos um prejuízo de cerca de R$ 100 bilhões em nossa balança comercial.
Demonizando
O setor precisa passar por melhorias, há dificuldade com algumas operações na área trabalhista, o controle sobre o uso de agrotóxicos deveria ser maior. Tudo isso é verdade. E, por isso, é necessário que se busque uma maior profissionalização do setor, não a criminalização dele. O agro precisa ter apoio na mesma medida em que deve ser melhor regulamentado. O que não ajuda é obrigar um estudante de ensino médio a concordar com a demonização de uma das bases econômicas do país para poder tirar uma boa nota numa prova.
Convicção forçada
Imagine, por um momento, que a questão fosse um texto “defendendo a pena de morte” ou o “porte de arma para todos” e que a “resposta certa” fosse concordar com aquilo. Quantos estudantes que não concordam com isso estariam sendo submetidos a esse tipo de convicção forçada? O tal “professor independente” que elaborou a questão tem todo o direito de concordar com o texto. A pessoa que escreveu o texto tem todo o direito de pensar o que quiser e se expressar. Mas o aluno que é obrigado a fingir convicções para tirar uma boa nota, como fica?
Nem Caetano
Os elaboradores do Enem, aliás, conseguiram dar nó até em Caetano Veloso. Colocaram músicas dele na prova e nem o próprio autor conseguiu responder as questões, afirmando que havia mais de uma resposta certa. Estavam tão “bem elaboradas” que o compositor teria tirado um zero na interpretação da letra que ele mesmo escreveu. Porque os “professores independentes”, certamente, sabem mais que ele.