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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O sagaz encontro informal, quando a formalidade não resolve

Confira a coluna Cena Política deste sábado (20)

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Igor Maciel

Publicado em 19/01/2024 às 20:00
O encontro com Lula - Ricardo Stuckert

No longo prazo, seguir formalidades constrói cidades inteiras. Mas, para colocar os primeiros tijolos pode ser necessário uma estratégia mais informal.

No primeiro dia da visita de Lula (PT) ao Recife houve um momento em que as duas abordagens foram confrontadas, envolvendo a família Campos e o Governo do Estado.

O Palácio do Campo fez um convite para que o presidente fosse jantar com a governadora Raquel Lyra (PSDB). Mas, para o mesmo horário, Renata Campos, mãe do prefeito João Campos (PSB) e do deputado federal Pedro Campos (PSB), fez também um convite para que o petista fosse jantar em sua casa com a família.

As formalizações acabaram se chocando e Lula tomou a atitude que um chefe de estado toma nessas horas: declinou ambos.

Melhor ir dormir

Se fosse jantar na casa de Renata, causaria uma má impressão sobre a sua aproximação com Raquel, a quem passou boa parte da tarde exaltando durante a agenda.

Mas, se fosse jantar com Raquel, acabaria dificultando as negociações do PT com João por espaços na chapa dele para as eleições deste ano.

Negociação

Os petistas locais têm feito um jogo de morder e assoprar nesse caso. Lula ir jantar no Palácio passaria a impressão de que a decisão já estava tomada e não há chance de aliança. Indo jantar com Renata, indicaria que a aliança está consolidada.

Para dois convites formais, o presidente formalizou o não duplo e resolveu a situação. Foi inteligente, do ponto de vista político. A precaução nessa relação facilitaria a vida dos petistas envolvidos na estratégia eleitoral de 2024.

Próximos

O problema é que a relação do presidente com a família do ex-governador Eduardo Campos transcende a política. E foi aí que entrou em cena a “informalidade”.

Renata não se abalou com a recusa ao jantar, juntou a família e foi ao encontro do presidente no hotel em que ele estava hospedado.

Do ponto de vista estratégico, é preciso admitir que foi uma solução sagaz e bastante eficiente.

Xadrez

Foi inteligente. Primeiro porque Lula não poderia se negar a receber a família, aliada histórica de sua trajetória desde Miguel Arraes, por alguns momentos no hotel, ainda mais depois de negar um convite para jantar.

Segundo porque, não importando se houve mesmo um jantar e nem quantos minutos ou horas a conversa durou, não importando se política foi discutida ou apenas uma troca de lembranças sobre a vida, o encontro garantiu as fotos necessárias para que João exerça pressão sobre o PT estadual na negociação pela chapa de reeleição.

A atitude de ir visitar o hotel é fruto de uma rapidez de raciocínio digna do xadrez.

Recado

A família toda estava lá e a ideia era fazer uma conexão entre o presente, com João e Pedro Campos, e o passado com Eduardo Campos. Deu muito certo.

Nas imagens registradas e postadas nas redes sociais os dois políticos com mandato da família foram rápidos e as publicações foram ao ar em sequência, acompanhadas de uma outra fotografia, de mais de uma década atrás, em que o prefeito do Recife e o deputado Pedro Campos, ainda crianças, aparecem com o pai ex-governador e com o presidente Lula.

Para quem entendeu, a mensagem subliminar foi mais que um recado, foi um sacolejo.

Tem um “porém”

O problema das construções informais é que elas costumam criar situações precárias no médio e no longo prazo. A formalidade constrói com base sólida, a informalidade é resolução temporária.

Até que ponto a exposição do encontro “informal” foi planejada por Lula ou até que ponto ele se sentiu incomodado e pressionado a entrar numa discussão na qual vinha tentando dar autonomia ao PT local?

Ele gostou de ser visitado no hotel?

Em que medida isso gera mais simpatia ou antipatia entre os petistas que torcem o nariz para a aliança com Campos?

É aguardar os próximos capítulos.

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