Na edição passada a coluna discutiu a obsessão de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, com o Banco Central e com o seu presidente, Roberto Campos Neto. Para ela, a autonomia da instituição é o motivo de a economia não ter decolado ainda.
Acontece que ela quer que o governo gaste dinheiro para ter resultados rápidos, mesmo que sejam voos de galinha e que isso possa gerar graves crises econômicas depois. Tem a ver com a necessidade petista de eleger prefeitos já em 2024, principalmente.
Mas chamou atenção que Gleisi tenha voltado a reclamar do BC, mesmo com o banco baixando os juros e prevendo mais reduções na taxa Selic até o fim do ano.
Se o banco está fazendo o que ela e o PT queriam, porque ela voltou a reclamar? Uma pesquisa do Instituto Quaest divulgada na quarta-feira (6) explicou o retorno ao discurso de ataque contra Campos Neto e o Banco Central: é a necessidade do bode expiatório.
Ou, como costuma dizer um amigo: Se a culpa é minha, eu boto em quem eu quiser.
Sem diferença
O levantamento feito pelo Quaest apontou que 38% dos entrevistados acreditam que a economia piorou nos últimos 12 meses e 34% dizem que está igual ao que era. Basta uma soma bem simples para perceber que 72% da população brasileira não viu diferença ou acha até que a situação piorou em relação ao governo Bolsonaro (PL).
Herança
Lula é o presidente há mais de 12 meses, não tem como reclamar da gestão anterior com os dados da pesquisa. Qualquer pessoa com raciocínio baseado em lógica e não em militância política ou torcida partidária percebe que o Banco Central não tem culpa de nada e que Lula anda gastando mais tempo tentando ser um ator internacional (e falhando) do que atuando no Brasil para o qual foi eleito como presidente.
Alguém sincero
E, mais que isso, talvez esteja faltando alguém com alguma proximidade ao presidente e mais coragem do que apego às benesses do poder para lhe dizer algumas verdades. A verdade mais urgente é explicar ao chefe do Executivo que ele não foi eleito porque é amado, ele não foi eleito porque tem uma trajetória de sucesso, ele não foi eleito porque é um ótimo gestor e ele não foi eleito porque as pessoas tinham saudade dele.
Quem não gosta, votou
E não que ele não seja algumas dessas coisas em menor ou maior grau, mas a quantidade de gente que acha ele ótimo gestor ou tinha saudade dele, mesmo os que acreditam que a trajetória dele é um sucesso ou que o amam, todos somados, não seriam suficientes para fazê-lo presidente de novo.
Eles tiveram ajuda essencial daqueles que rejeitam o PT, acham que o atual presidente é corrupto, mas não tinham como votar em Bolsonaro, porque o ex-presidente era, e segue sendo, alguém completamente despreparado para o cargo que ocupava.
O amor não venceu
Os que amam Lula não o teriam como presidente hoje se não fossem aqueles que apenas o toleram em comparação com Bolsonaro. Eis a verdade, que precisa ser dita: a soma dos que amam com os que não tinham alternativa é que elegeu Lula para um terceiro mandato. Desculpem, mas não foi amor.
O próximo será pior
Se ninguém com bom senso tiver coragem de dizer isso ao presidente, teremos quatro anos de uma economia claudicante, uma articulação política de coerção e de chantagem, servidas sobre uma mesa de crises internacionais nas quais Lula vive nos metendo.
Se ninguém lhe explicar porque ele ganhou a última eleição, chegaremos em 2026 com uma população disposta a procurar, mais uma vez, o primeiro aventureiro maluco que brotar de alguma rede social, como já aconteceu quando o petismo decepcionou seus antigos eleitores com os escândalos de corrupção já conhecidos. Bolsonaro nasceu do enfado com os desmandos desse grupo que está no poder hoje.
Onze pontos em seis meses
Se ninguém disser a verdade a Lula, corremos o risco de ficarmos trocando uma opção ruim por outra, anos além. Se ninguém disser a verdade a Lula, ele vai continuar acreditando que sua aprovação de 51% (outro número dessa pesquisa Quaest) é algo bom, porque ninguém vai alertá-lo que o número de pessoas que desaprovam é de 46% e, mais importante que isso, ninguém vai sacudi-lo para explicar que a queda na aprovação de agosto de 2023 até agora já é de quase 10 pontos percentuais.
Os que desaprovam o governo eram 35% em agosto e agora são 46%, subiu 11 pontos percentuais.
Bússola
Alguém precisa dizer verdades a Lula, porque ele é o piloto de um avião que transporta todos os brasileiros, gostem dele ou não. Se não passarem para ele as orientações corretas, os dados corretos, ele vai isolar seu destino e o nosso numa bússola quebrada e vai pousar o avião no lugar errado, se conseguir pousar.
Esse avião precisa chegar inteiro, em segurança, gostemos ou não do piloto, para que tenhamos alguém com juízo no futuro disposto a assumir seu controle.