Neste domingo (10) haverá eleições em Portugal. E um alerta, que também serve aos brasileiros, precisa ser feito aos portugueses: esgotar alternativas é flertar com a loucura. E, quando se flerta com a loucura, torna-se impossível qualquer previsão.
Portugal
Explico a preocupação, citando dados apurados nas pesquisas relacionadas à disputa eleitoral portuguesa. O Ipespe, do pernambucano Antônio Lavareda, realizou levantamentos sistemáticos, diários, da eleição em Portugal. Outras pesquisas, como a da RTP com a Universidade Católica Portuguesa apresentaram dados bem parecidos aos do Ipespe.
A tendência é que o Partido Socialista, no poder pela maior parte dos últimos 30 anos em Portugal, perca a disputa para a coligação formada majoritariamente pelo Partido Social Democrata, a Aliança Democrática.
O Chega chegou
O que chama atenção, porém, não é a alternância entre esses dois grupos. O crescimento do Chega, partido de extrema-direita com tendências xenófobas, é que está acendendo o sinal de alerta na Europa.
Nas últimas eleições, em 2022, o Chega conseguiu sair de apenas uma cadeira no Parlamento para ocupar 12 assentos. Dois anos depois, a tendência é que o grupo consiga mais de 30 posições no legislativo português.
Se isso não servir como sinal, pouca coisa servirá.
Portugal já foi aqui
O fato é que os portugueses cansaram do PS, mas ainda darão uma chance ao PSD antes de esgotarem suas alternativas e entregarem o país ao Chega. A eleição por lá está sendo antecipada depois que vários escândalos de corrupção explodiram no governo do PS.
Isso acontece porque é um regime parlamentarista, mas você notou alguma semelhança com a cronologia política brasileira dos últimos 10 anos? Não é coincidência.
Lá e cá
Os elementos de decomposição da política portuguesa são bem parecidos com o que aconteceu no Brasil.
Aqui nós tivemos 13 anos do PT no poder que desembocaram num grande escândalo de corrupção, inviabilizando o partido, mas sem que ele morresse. Lá, apesar dos escândalos, o PS deve terminar a eleição como a segunda maior força do país ainda.
Aqui, após uma decepção com os anos finais do PSDB no começo do século e a posterior corrupção do PT, os brasileiros começaram a não ver alternativa e flertaram com Bolsonaro. Também não deu certo e Lula ganhou mais uma chance. Lá, essa nova chance está sendo dada para um partido democrático, antes de se mudar o lado, mas pode ser a última alternativa.
Sinais
O alerta é importante para os portugueses, porque se o PSD e sua Aliança Democrática decepcionarem os eleitores, a chance de o Chega fazer um primeiro-ministro num futuro próximo é grande.
Mas o sinal segue sendo válido para os brasileiros. E aqui pode ser pior.
“Excelentíssimo padre”
É que depois de se decepcionar com a centro-direita, com a esquerda e até com a direita bolsonarista, caso nessa nova chance que está tendo Lula não alcance qualquer sucesso com destaque teremos problemas. Este governo não pode dar errado e se der a responsabilidade será de Lula. E se assim for, ninguém se assuste caso alguma figura bizarra vire presidente do Brasil em pouco tempo.
Que tal um “excelentíssimo senhor, presidente da República, Padre Kelmon”?
Impossível, não é.