Destaques e análises políticas do Brasil e Pernambuco, com Igor Maciel

Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O caminho do futuro não é pelo centro. O equilíbrio político é o destino, não o percurso

Confira a coluna Cena Política deste sábado (30)

Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 29/03/2024 às 20:00
Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), quando disputaram o governo de São Paulo - Globo/Fabio Tito

Fernando Haddad é de "centro", e é petista. Ele entende a importância do mercado como agente transformador e indutor do desenvolvimento do país, junto com o poder público, e é petista. Ele parece perceber a importância que existe em respeitar empresas como a Petrobras, já deu mostras de consideração pelos acionistas delas.

Haddad, mesmo sendo petista, reconhece que há limites para as intervenções estatais, quer cuidar da saúde fiscal da máquina pública e economizar dinheiro do contribuinte para investimentos estratégicos, sem abrir as comportas dos cofres para falsear um crescimento econômico. Ao mesmo tempo, o atual ministro da Fazenda, vai fazendo um "curso intensivo" de negociação com o Congresso Nacional.

Ele tem cometido erros, tem feito bobagens também e, exatamente por ser petista, pressionado pelos colegas de partido, mete os pés pelas mãos com alguma frequência tentando aparar arestas.

Já passou da hora de se pensar numa transição para fora do embate estéril entre Lula e Bolsonaro que só é bom para os dois.

Haddad pode ser uma ótima opção para uma transição possível do populismo "Bolsolulista" que fabrica cada vez mais cretinos no Brasil, em ambos os lados da polarização insensata na qual vivemos.

Saída pelo PT?

Como efeito dessa polarização, por estarem mergulhados nela, muitos que leem esse texto agora já devem estar reclamando mentalmente e questionando o motivo de a "saída para a polarização" ser com um outro petista.

Tudo bem, eu explico. E, para explicar, o melhor é analisar quem seria a opção do lado bolsonarista e como ela se encaixaria na realidade do Brasil de hoje.

Tarcísio

O nome mais forte ligado à direita que se identifica com Bolsonaro é o do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). Ele tem características positivas muito parecidas com as de Haddad, é verdade.

No governo Bolsonaro foi o melhor ministro da gestão, ao lado de Tereza Cristina, hoje senadora.

Mesmo não sendo tão difícil se destacar pela seriedade naquele grupo, já que era um time mais excêntrico que competente, Tarcísio teve muitas realizações e bons resultados que seriam vistosos mesmo se ele fizesse parte de um ministério de verdade, comprometido com metas e realizações.

Além disso, Tarcísio demonstra correto respeito institucional pelos outros poderes, que o próprio ex-chefe não tinha e nem tem.

É até melhor

Se penar direitinho, Tarcísio é um nome até melhor do que Haddad, porque teria condições de ignorar o patrulhamento ideológico de sua parte na polarização melhor do que o petista.

O governador de São Paulo tem mais facilidade para lidar com os seus malucos, porque o equívoco deles frente à realidade é baseado em vieses de confirmação coletivos. Ou você pensa igual a eles ou eles vão embora.

Já com os malucos de Haddad o equívoco frente à realidade é baseado na ideia de que o mundo precisa ser do jeito que eles sonharam na juventude. Isso é muito mais difícil.

Seita e utopia

Ambos os grupos são ambiciosos e têm interesses pessoais, partidários e financeiros. Mas o bolsonarismo é mais parecido com uma seita. O lulopetismo tem mais semelhança com uma utopia adolescente.

É mais fácil ignorar uma seita, porque o máximo que pode acontecer é Tarcísio ser excluído dela e virar "inimigo".

Agora, adultos que cultivam utopias adolescentes são muito mais perigosos, quando são decepcionados em seus "sonhos", e costumam ser muito mais ardilosos e vingativos. Pior para o petista.

A realidade de 2026

Então por que, ainda, a vantagem de Haddad? Tem a ver com a realidade jurídica, política e o calendário eleitoral.

Acontece que o atual presidente é do PT, o governo atual é do PT e a tendência é que, não havendo nenhum caos econômico, o grupo que está hoje no poder chegue com força à eleição de 2026.

Do outro lado, Tarcísio é governador de São Paulo, teria que desistir de uma reeleição tranquila (até agora) para enfrentar uma campanha muito mais difícil e completamente incerta em 2026. Sem falar que não teria a máquina federal para trabalhar em seu favor.

Os dois são bons, mas a saída via Haddad é mais certa para 2026.  Em 2030, quem sabe não será Tarcísio necessário e mais viável?

Se a reeleição finalmente for extinta dos cargos executivos, fica até mais fácil.

E por que a pressa?

É preciso que a sociedade comece a discutir o que há para o Brasil além do abismo na política atual.

Enquanto Lula e Bolsonaro tentam sobreviver em simbiose mútua, com um respirando os erros do outro para ter energia, há um país que precisa de estabilidade política para alcançar um crescimento condizente com o seu tamanho no mundo. Nem um e nem outro poderão entregar algo assim. Isso não vai acontecer enquanto eles forem as únicas opções viáveis nas eleições.

Lula pode tentar reeleição em 2026, a inelegibilidade de Bolsonaro termina em 2030. E lá se vai mais uma década. É preciso que eles tenham concorrentes dentro de seus próprios ninhos. E setores da sociedade, com responsabilidade, devem começar a incentivar isso.

É para ontem

É inútil também, deixemos claro, tentar quebrar uma polarização tão radical como a que existe hoje no Brasil, sonhando com um nome de centro, equilibrado e sem qualquer vínculo ao petismo ou ao bolsonarismo já para 2026.

Hoje o Brasil está dividido ao meio. Enquanto a polarização não arrefecer, somente um nome que saia de uma dessas metades terá condições de governar. É melhor procurar opções viáveis entre eles.

Todo mundo que deseja um candidato de centro, com pensamento liberal e a mente aberta para reformas no país, precisa entender que o caminho do futuro não é pelo centro, com a forte polarização que existe no país.

O centro tem que ser o destino, não o percurso.

 

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS