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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

A força do PT no Recife e os atrasos espetacularmente convenientes

Atrasos atrapalhados, como o PT do Recife descobrir que é forte somente agora, muitas vezes são mais convenientes do que a pontualidade assertiva.

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Igor Maciel

Publicado em 22/07/2024 às 20:00
Gleisi Hoffmann (PT) - GABRIEL FERREIRA/JC IMAGEM

O PT do Recife emitiu uma nota falando da própria força eleitoral, de como tiveram votos na cidade até 2012 e de como foram fortes mesmo em campanhas nas quais saíram perdedores, indo para o segundo turno, inclusive, em duas ocasiões, com João Paulo (PT) e com Marília Arraes (hoje no SD).

Mas saber a hora oportuna de fazer as coisas parece não ser o forte dos petistas no município. Talvez eles só tenham recebido a planilha com os próprios votos das eleições anteriores nas últimas horas, para saber se deveriam ter se valorizado mais ou não.

Não é de agora que muito atores políticos vinham falando dessa força eleitoral na capital e de como o PT poderia ter influenciado muito no roteiro dessa eleição, caso estivesse disposto a sair do sofá socialista e assumir seu próprio destino.

Conveniência

Os números são públicos, mas o PT municipal resolveu lembrar de sua própria força apenas depois que essa força já não podia mais ser utilizada numa negociação ou numa eleição. 

O PT do Recife chegou bastante atrasado à celebração de sua própria importância. Azar ou propósito?

É que alguns atrasos atrapalhados, muitas vezes, são tão convenientes que funcionam melhor do que a pontualidade assertiva.

Coincidência ou não, comenta-se que os maiores incentivadores dessa insistência na submissão ao PSB tinham conexão com espaços na prefeitura.

União forçada

Apesar de toda a força que o PT lembrou-se apenas agora que tem, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, viajou ao Recife nesta segunda para fingir que todos estão satisfeitos em continuar dormindo no sofá do PSB de Pernambuco e atestar uma unidade na sigla que está longe de ser realidade. E fim de história.

Só mais uma coisa

Campos também tinha a planilha com os votos do PT por aqui. Mas o prefeito do Recife não tem mais de 70% das intenções de voto à toa. Ele foi mais sagaz do que a soma de todo o PT da capital. Fingiu que ninguém tinha importância e convenceu os petistas.

E o sofá socialista vai continuar sendo chamado de lar pelos aliados locais.

Túlio

Túlio Gadêlha (Rede), deputado federal que era pré-candidato à prefeitura, rendeu-se à realidade e convocou uma coletiva para declarar que está fora da disputa e anunciar apoio a Dani Portela (PSOL). Rede e PSOL formam uma federação, o partido de Dani manda, pois tem a maior parte das ações. Ela tem mais capilaridade eleitoral no Recife, por já ter sido a vereadora com maior votação no Recife.

Hoje deputada estadual, foi inteligente ao marcar sua convenção para o primeiro dia possível, no sábado (20). Sem demora, enviou logo o registro para a Justiça Eleitoral, querendo evitar judicialização.

Atrasou tudo

Túlio foi insistente de forma dura em alguns momentos com a candidata. Além disso, a Rede tentou articular nacionalmente, usando a campanha de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, para que uma decisão vertical mudasse o cenário no Recife e excluísse Dani do processo.

A sequência foi desgastante e atrapalhou a pré-campanha dela. Por causa da incerteza, séries de sabatinas chegaram a ser feitas sem a presença dela. Tudo provocado pela insistência de Túlio.

Educação

O curioso foi ele ter declarado apoio na entrevista coletiva afirmando que para participar pessoalmente da campanha, o PSOL terá que dar demonstrações de apoio ao grupo dele na Rede. Caso perguntem a Dani Portela, provavelmente ela vai declarar que a participação pessoal do colega de federação é importante e bem vinda.

Resta saber até onde essa declaração será feita por necessidade ou por educação.

PDT

Por falar em Túlio Gadêlha (Rede), como fica agora o PDT? O fato é que o partido de Carlos Lupi (PDT) chegou a fazer um evento no qual declarou apoio à candidatura de Gadêlha no Recife.

Chamou bastante atenção, na época, porque os pedetistas têm a vice de João Campos (PSB), Isabella de Roldão (PDT), preterida para um possível novo mandato. Ela, inclusive, pode ser candidata a vereadora este ano, só não se sabe no palanque de quem.

Rumo incerto

O PDT só tem certeza sobre Caruaru, onde José Queiroz (PDT) é a prioridade da sigla e pode ir ao segundo turno.

No Recife, o partido é um ônibus quase vazio e aparentemente sem rumo definido, circulando até onde der o combustível.

Açodamento ou mentira

É muito difícil dizer, por enquanto, se a desistência de Joe Biden na disputa da eleição americana vai facilitar ou dificultar uma vitória de Donald Trump. Quem tiver uma resposta exata para esta questão está sendo açodado ou mentindo.

Mas a mudança já teve efeitos muito importantes na campanha democrata por lá. Em 24h, a possibilidade de Kamala Harris ser o nome do partido na disputa injetou mais de R$ 250 milhões em doações, é um recorde numa eleição dos EUA.

É diferente

Só é preciso ter cuidado com a empolgação, principalmente por duas peculiaridades já citadas aqui na coluna na época do atentado contra Trump: o voto não é obrigatório nos EUA e, basicamente, só dois partidos disputam a eleição num clima mais parecido com o de uma rivalidade de futebol do que de argumentação eleitoral básica.

Breu

Quanto mais paixão há numa eleição, mais escuro será o caminho até o resultado, sempre. O resultado de uma campanha que já teve desistência e atentado, na qual as pessoas não são obrigadas a votar e costumam tratar os partidos políticos como se eles fossem extensões de suas próprias vidas é um imenso breu.

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