Conheça a casa por assinatura, uma maneira descomplicada de aluguel que está crescendo no Brasil

Hospedagem ou moradia feita com um mínimo de burocracia através de um aplicativo. As facilidades do mundo digital que revolucionaram o setor de transportes de passageiros e os bancos chegaram ao segmento imobiliário
Edilson Vieira
Publicado em 12/09/2021 às 8:00
IMÓVEIS Mudar de casa para outra equivalente, sem necessidade de outro contrato, e pelo tempo que precisar é uma das possibilidades Foto: Divulgação


Depois da assinatura de carros, o mercado vê surgir a assinatura de imóveis. Na prática, trata-se de um aluguel descomplicado de casa ou apartamento. Como tudo na chamada economia compartilhada, a assinatura de residências é bem menos burocrática e mais pragmática do que um processo de aluguel convencional. Tudo é resolvido através de um aplicativo de smartphone. Sem idas a cartório ou necessidade de fiador. O aluguel pode ser por diária, semanas, meses ou até anos e é pago por débito automático, cartão de crédito, Pix ou boletos. O imóvel escolhido pode abrigar desde uma pessoa até uma família. Ah, e no preço da locação à longo prazo já estão incluídos taxas como condomínio, IPTU, conta de luz, internet wi-fi e até Netflix.

Enjoou daquele endereço? Mudar de casa para outra equivalente, sem necessidade de outro contrato, é uma das possibilidades. Quer incluir o café da manhã ou serviço de limpeza e arrumadeira? Basta contratar pelo mesmo aplicativo e pagar por fora. Os imóveis por assinatura também já vêm mobiliados e decorados, e alguns podem incluir enxoval de cama, mesa e banho, louças, talheres, eletrodomésticos, etc. Basta levar a mala de roupas. Alguns espaços permitem acomodar animais de estimação.

Tanta facilidade tem um preço. Geralmente, o imóvel por assinatura custa mais caro que um aluguel tradicional. Um flat de 18 m2 em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife,  para uma pessoa, está sendo oferecido na modalidade de assinatura por R$ 3.315 por um mês. Em São Paulo, o aluguel de um apartamento para duas pessoas no sofisticado bairro do Itaim Bibi pode chegar a R$ 8 mil por mês. Já o  valor por diárias para uma pessoa pode ser equivalente ao de um hotel. É possível encontrar diárias, em promoções, por até R$ 100.

NOVIDADE

O sistema de aluguel por assinatura é relativamente novo no Brasil. A Nomah, com sede em São Paulo, é uma da mais "antigas" do mercado, tem cinco anos de funcionamento. A empresa se apresenta como uma startup de locação flexível que "oferece uma experiência prática e confortável para as pessoas ficarem um dia, semanas ou meses em apartamentos mobiliados". Da reserva ao final da estadia, o atendimento é 100% online e sem burocracias desnecessárias, diz o texto de apresentação. Para os investidores imobiliários, a Nomah faz a administração do imóvel, cuidando desde o projeto, a manutenção, divulgação e gestão dos hóspedes. A empresa está presente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e tem projetos de expansão para outras regiões, incluindo o Nordeste. A Nomah tem pouco mais de 700 imóveis sob sua administração.

Thomaz Guz, CEO da Nomah diz que a locação flexível traz um diferencial, que é unir padrões de qualidade da hotelaria com um ambiente residencial. "A gente consegue garantir um padrão de qualidade de um bom hotel, desde o chuveiro, a cama e o enxoval até o atendimento 24 horas feita por uma central de apoio, tudo em um ambiente de moradia". A Nomah tem diárias desde R$ 130 até R$ 500. Em São Paulo a empresa tem produtos dos mais variados. De uma cobertura de R$ 120 m2, a um apartamento tipo studio de 19 m2", explica Thomaz. Quando se fala de locação mensal, os pacotes são a partir de R$ 2 mil.

O público da Nomah é formado por 40% de executivos que se hospedam a negócios e os outros 60% formam um público mais variado. "Temos um público grande que viaja a lazer. Mas há os estudantes e profissionais que estão de mudança de cidade. Outro público da locação flexível são os staycations, pessoas que já são moradoras de São Paulo e que consomem hospedagem na própria cidade numa região diferente, tanto para mudar de ares ou para usar essa segunda moradia como home office, por exemplo". O executivo revela que na semana passada, a Nomah fechou a ocupação de suas unidades em 88%. "Estamos muito otimistas com o mercado de locação e de investimentos. A queda da taxa de juros, se mantendo no patamar de um dígito, continua a ser muito atrativa para o investimento imobiliário". 

Sobre a locação flexível 100% online ainda ser vista como algo estranho por ser uma tecnologia nova, Thomaz Guz faz uma analogia com o sistema bancário, que também passou por profundas mudanças. "Há poucos anos a gente não imaginava que era possível abrir uma conta no banco sem ter que ir em um agência e, até mesmo, existirem bancos sem agências. O que a gente está fazendo é trazer isso para a hotelaria. Hoje você pode fazer um check-in sem entregar um documento para um recepcionista", resumiu.

AGILIDADE

Alexandre Lafer Frankel, é CEO da Housi, outra startup paulistana. Ele conta que, apesar de ser uma das mais novas do segmento, com pouco mais de dois anos de existência, a Housi, que começou oferecendo uma centena de unidades para locação em duas cidades (São Paulo e Rio de Janeiro), hoje tem uma carteira de cerca de 100 mil unidades disponíveis, em todas as capitais brasileiras, abrangendo mais de 80 cidades. "A Housi foi criada quase dentro da pandemia, desafiando um mercado bem tradicional. O crescimento foi muito rápido, como geralmente é nos negócios digitais". Alexander Lafer define sua empresa como "o Airbnb da moradia". "Enquanto o Airbnb trabalha basicamente com turismo, a gente trabalha com moradia, contratada de forma digital e pelo tempo que o usuário quiser. Você pode alugar uma casa por um ano, em minuto", simplifica Alexandre, ilustrando que a agilidade é um dos motivos de sucesso de negócio.

O executivo da Housi explica que os imóveis são oferecidos sempre prontos para serem habitados de imediato. Não precisa mandar ligar a água ou a luz e nem comprar a mobília. Nos contratos de longa duração, o reajuste anual é feito pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo; é o índice oficial da inflação no Brasil). A efetivação do negócio é toda feita no ambiente digital, inclusive a assinatura do contrato, que é 100% digital. Nele, além das garantias para ambas as partes (inquilino e administradora), o contratante escolhe o meio de pagamento. "Na Housi, 50% preferem pagar no cartão de crédito e outros 50% no Pix), diz Alexandre Lafer.

As empresas de locação por assinatura utilizam imóveis disponibilizadas por incorporadoras, redes de hotéis ou mesmo por investidores pessoas físicas. Podem ser unidades usadas, seguindo um padrão de habitabilidade, ou recém construídas. "Estamos fazendo associações com incorporadoras para que os lançamentos imobiliários já sejam formatados para a locação flexível. Assim, unidade novas recebem um padrão de arquitetura, tecnologia e de serviços exclusivos, atraindo valor tanto para o morador como para o investidor", explica Alexandre Lafer, cuja empresa recebeu um aporte de R$ 50 milhões de um fundo de investimentos norte americano, o mesmo que investe na Netflix. "Queremos fazer uma revolução similar. O que a Netflix fez pela indústria cinematográfica a gente quer fazer no mercado imobiliário, uma revolução, proporcionando novos formatos de moradia para a sociedade", diz Lafer.

GARANTIAS

O advogado Marcelo Carvalho, especialista em direito imobiliário do escritório Queiroz Cavalcanti Advocacia, diz que apesar de  o negócio ser fechado com uma startup, ou seja, uma empresa de tecnologia, trata-se de um contrato de aluguel que, como ocorre no mercado imobiliário tradicional, deve estabelecer garantias tanto para o inquilino como para o administrador do imóvel. "Há uma tendência em vários mercados de compartilhamento de bens, o que cria novas modalidades de comércio e serviços. Como se trata de algo inovador e recente, é importante o consumidor pesquisar sobre a empresa, acessando o site de quem está oferecendo o aluguel por assinatura para ver todos os detalhes sobre o serviço oferecido, pesquisando o CNPJ da empresa no Google, e também acessando sites de defesa do consumidor, como o Reclame Aqui; tudo para ficar a par de possíveis queixas em relação àquela empresa". 

Marcelo também recomenda que, em caso de alguma dúvida não ficar esclarecida, o cliente faça uma consulta a um corretor ou advogado, como forma de proteção maior contra riscos de fechar um mau negócio. "Quer queira ou não, a pessoa está colocando seu capital em algo que é virtual. E o pagamento vai para essa empresa que repassa os valores para o proprietário do imóvel". Marcelo aconselha que, se for possível, o interessado em alugar o imóvel visite o local, para se certificar se ele realmente está disponível e se atende às suas expectativas. "O consumidor pode até consultar o condomínio para saber se aquele tipo de locação está autorizado naquele local e, por último, ter acesso aos termos do contrato. Geralmente se tem acesso ao contrato, após o preenchimento de um cadastro mas, mesmo assim, é bom estar ciente dos termos para só depois efetuar o pagamento. Por exemplo, se o consumidor não ficar satisfeito com as acomodações, ele pode rescindir o contrato? Se rescindir, haverá alguma multa?". Apesar de ainda ser uma novidade no mercado, o advogado vê o aluguel por assinatura feito através de startups como algo positivo. "Toda tecnologia para redução da burocracia é bem vinda, desde que feita com clareza nas informações e segurança jurídica", conclui Marcelo.

 

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