A mais recente eliminada do Big Brother Brasil 22, Jade Picon, deixou muita gente curiosa ao afirmar que atingiu a independência financeira ao 13 anos de idade. Hoje ela tem 20 anos, atua como modelo e empresária (com um marca própria de roupas) e tem milhões de seguidores nas redes sociais. Mas, a dúvida permanece. É possível uma pessoa atingir a independência financeira tão cedo?
Uma pesquisa feita pelo Ibope para o C6 Bank, mostra que apenas 21% dos brasileiros das classes A, B e C com acesso à internet tiveram contato com noções de educação financeira durante a infância. O levantamento mostra ainda que 38% dos entrevistados aprenderam algo sobre o assunto na adolescência, 27% tiveram contato com o tema na juventude e 14% só aprenderam finanças pessoais já adultos, acima dos 25 anos.
As escolas brasileiras já oferecem educação financeira como parte do currículo básico, já que essa disciplina integra a chamada Base Nacional Comum Curricular, mas o que de fato faz diferença para que uma criança comece a lidar com o dinheiro de forma responsável?
Para o educador financeiro Rudá Ramos não existe uma idade mínima estipulada para começar a falar sobre dinheiro com as crianças. Para ele, o momento ideal é quando o pai ou a mãe perceberem que a criança começa a se interessar por dinheiro. "Por exemplo, quando o filho vai ao shopping e pede para os pais comprarem um brinquedo, esse é um bom momento de iniciar uma conversa. Falar de objetivos, prioridades, se for o caso criar um planejamento financeiro para alcançar aquele objetivo. Não existe uma idade mínima para isso, o importante é perceber o interesse da criança pelo assunto".
Em relação a emancipação de Jade Picon aos 13 anos, o educador deixa claro que é um caso fora da curva. "Nós entendemos que independência financeira é poder quitar todos os seus gastos pro resto da sua vida. Mas os gastos são obrigações financeiras que devem estar dentro de um orçamento. É a parcela de um carro, de um imóvel, fazer a feira do mês. Aos 13 anos você não tem muitas obrigações financeiras mas o caso de Jade tem que ser tratado com muito cuidado para que as crianças não acreditem que isso é fácil, simples e pode ser alcançado de qualquer forma".
Rudá Ramos fala que a educação financeira é útil para quando a pessoa começar a ganhar dinheiro saber o que faz com ele. "No caso de uma criança é importante o suporte da família. Ela tem um papel fundamental. A criança até pode ver a educação financeira na escola, onde vai ver conceitos básicos, conceitos técnicos, mas é no dia a dia, junto com os pais que a criança vai evoluindo financeiramente e amadurecendo deforma mais viável", afirmou o especialista.
Para o educador financeiro, uma jornada para esse amadurecimento financeiro deve incluir alguns conceitos. "A criança tem que saber que para tudo é preciso ter um objetivo, pode ser comprar um brinquedo ou fazer um passeio com os amigos", diz Rudá Ramos. Depois vem a definição de planos e organização das finanças. "Saber exatamente quanto ganha e quanto gasta. A criança sabe o custo de um lanche na escola, por exemplo?". Por fim, a dica principal, segundo o consultor, é passar a noção de poupança e prazos. "Quanto a criança precisa guardar, e por quanto tempo, para atingir o seu objetivo", ensina Rudá Ramos.
O mercado oferece várias ferramentas financeiras que estão à disposição das famílias e seus filhos e podem ajudar a consolidar um conhecimento sobre dinheiro desde cedo. Desde a previdência privada,que pode ser feita ainda na infância, ou o cartão de débito que pode ser "abastecido" com o valor da mesada. Tem ainda a tradicional poupança, campeã entre as aplicações escolhidas pelas famílias para formar um "patrimônio" para os filhos. Na opinião de Fernando Sá, gerente da cooperativa de crédito Sicredi Recife, o que importa é introduzir as crianças nas rotinas financeiras da família.
"Muito se fala de educação financeira, muita gente acha que é papel das escolas falar mais sobre o assunto mas eu entendo que esse assunto deve ser tratado no berço, pelo pai e pela mãe, que são referências. São eles que vão formar o caráter dos filhos e como ele vai lidar com o dinheiro dele no futuro". Ele não concorda que o assunto dinheiro seja tratado como tabu dentro de casa. "Tem família que o pai e a mãe não falam quanto ganham. Isso tem que ser conversado com as crianças, durante a formação delas", diz o gerente.
Para Fernando Sá, uma pequena mesada pode ser o princípio para que a criança entenda o processo de compra, o custo e o esforço necessário para que aquele desejo se torne realidade. "A criança pode aprender gerindo sua mesada e, observando os pais. Eles são gastadores ou poupadores? Deve-se valorizar sempre as conquistas e não as compras. Então a criança vai lidar melhor com seu dinheiro no futuro", resume Fernando Sá.