Reitores de três das universidades públicas de Pernambuco – UFPE, UFRPE e UPE – estão discutindo com a comunidade acadêmica possibilidades de ensino remoto para cursos de graduação durante a pandemia do novo coronavírus. Isso inclui, por exemplo, aplicação de questionários para saber, de alunos e professores, as condições tecnológicas de que eles dispõem, como acesso à internet e computadores. Nas federais, metade dos alunos é egresso de escola pública (por causa de lei de cotas) e pelo menos um terço é de família de baixa vulnerabilidade social.
No Estado, nenhuma instituição pública de ensino superior adotou, até agora, o modelo de aulas virtuais curriculares para graduandos, embora o Ministério da Educação (MEC) tenha permitido essa modalidade em todo o País justamente por causa da covid-19. Das 69 universidades federais existentes no Brasil, 55 estão com atividades suspensas, segundo levantamento do MEC, o que representa um universo de 870 mil estudantes.
Assim como nas escolas de educação básica, as faculdades e universidades pernambucanas, públicas e privadas, estão sem aulas presenciais desde 18 de março devido a um decreto estadual que expira domingo, mas com grande possibilidade de ser prorrogado até o final de junho.
Juntas, UFPE, UFRPE e UPE somam cerca de 64 mil alunos nas graduações. As três instituições tiveram apenas duas semanas de aulas neste primeiro semestre, já que todas começaram o ano letivo em 2 de março. Os calendários acadêmicos delas previam encerrar as atividades deste período, se não houvesse a pandemia, na primeira quinzena de julho (em datas diferentes).
A oferta de aulas da graduação no formato remoto foi um dos assuntos da reunião realizada quarta-feira (27) pelo Consórcio Pernambuco Universitas, composto por essas três universidades mais a Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a Católica de Pernambuco (Unicap), única privada do grupo. Está previsto um seminário, no início de junho, para aprofundar o debate e trocar sugestões, embora cada instituição vá decidir separadamente o que fazer.
“É consenso que seguiremos o que orientarem as autoridades sanitárias no que diz respeito ao retorno das aulas presenciais. Sobre as aulas remotas, estamos avaliando como será possível fazer”, diz o reitor da UPE e presidente do consórcio, Pedro Falcão. “No caso da UPE estamos vendo em quais cursos podemos adotar o ensino híbrido. Formação superior requer muitas aulas práticas. Esse é um dos desafios do ensino remoto”, observa Pedro.
Na UFPE deve ser lançado um questionário, segunda-feira (1º), para traçar um perfil dos alunos e professores. “Estamos tendo reuniões internas esta semana, com diretores dos centros, coordenadores dos cursos e representantes dos estudantes para discutir o assunto. Com o questionário saberemos as condições de acesso, por exemplo. Nacionalmente há um movimento para cobrar do MEC apoio para inclusão digital dos alunos”, afirma o reitor, Alfredo Gomes.
A UFRPE formou um grupo de trabalho que vem debatendo as alternativas de ensino durante a pandemia. Também está prevista a aplicação de um questionário. “São três vertentes que precisam ser observadas. A acessibilidade e condições de estudo dos alunos, a preparação dos professores para ministrar aulas no ambiente remoto e a adaptação do material didático. Não é uma equação simples de se resolver”, destaca o reitor da Rural, Marcelo Carneiro Leão.
Aluna do penúltimo período do curso de agronomia da UFRPE, Will Soares, 22 anos, concorda que não haja aulas remotas na graduação enquanto não houver condições de acesso para os estudantes. "Moro no Casa do Estudante, no Recife. Mas minha família é de Palmares e voltei pra casa deles desde que começou a pandemia. Não tenho computador e meu smarthone não é de primeira. Estou no 9º período de agronomia, que exige muitas aulas práticas", conta o jovem.
"Acho sensato não ter aulas remotas na graduação. Além da falta de condições de acesso, como é meu caso e de outros colegas, tem a questão da qualidade dessa formação à distância. Para passar o tempo e melhorar minha formação, tenho feito cursos curtos da Embrapa, lido as ementas das disciplinas e participado de atividades complementares ofertadas pela própria universidade", diz Will.