Não se sabe ainda quando as aulas presenciais poderão voltar a acontecer em escolas, faculdades e universidades públicas e privadas de Pernambuco por causa da pandemia do novo coronavírus. Enquanto não ocorre esse anúncio por parte do governo estadual – a expectativa é de que o plano de retomada das atividades educacionais seja apresentado à sociedade na próxima semana – cresce o debate, entre pais de alunos, se será seguro mandar as crianças e adolescentes para os colégios. Muitas famílias afirmam que, mesmo o governo liberando a abertura das unidades de ensino, pretendem manter os filhos em casa, estudando remotamente.
É o caso da dona de casa Margarida Brayner, 48 anos, mãe de Tiago Brayner, 10, aluno do 5º ano do ensino fundamental do Colégio Nossa Senhora das Dores, localizado em Bezerros, no Agreste. O município e a vizinha cidade de Caruaru são responsáveis por 71% do aumento dos casos de covid-19 na região, o que provocou o endurecimento das medidas de isolamento social por parte do governo durante uma semana, a partir desta sexta-feira (26).
“Sou diabética, portanto estou no grupo de pessoas com mais riscos de contrair o coronavírus. Por isso, meu receio de mandar Tiago para a escola quando liberarem. Ele é muito inocente e não acho que vai ter todos os cuidados necessários para evitar a contaminação. Quem garante que as crianças ficarão distantes? Elas podem esquecer, vão querer brincar. É realmente uma preocupação grande”, diz Margarida.
O veterinário Gustavo Pereira, 46, pai de Júlia, 15, e Vitória Nazário, 9, também não pretende mais levar as filhas este ano ao Colégio Maria Auxiliadora, no Recife, onde elas estudam no 1º ano do ensino médio e no 4º ano do fundamental, respectivamente.
“É dever dos pais resguardar a vida dos filhos. Como sou da área de saúde, sei do poder do vírus. Elas estão isoladas em casa há cem dias com minha esposa. Só quem sai sou eu, para trabalhar. Não vejo problema de elas perderem o ano letivo, se for por uma questão de saúde. Dá para recuperar os estudos ano que vem. A vida não”, observa Gustavo Pereira, ressaltando que as manterá com aulas online. Ele só considera rever a decisão se houver uma vacina contra a covid-19.
Em Pernambuco estudam cerca de 2,3 milhões de alunos na educação básica. Desse total, a rede privada tem cerca de 400 mil estudantes. Atento a essa possibilidade de os pais optarem por deixar os filhos em casa, o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco, José Ricardo Diniz, ressalta que o ensino remoto vai ser mantido.
“Caberá a cada família decidir se manda ou não, comunicando antecipadamente à escola, para que a organização das modalidades remota e presencial ocorra de forma eficiente”, destaca José Ricardo. "O ensino remoto e o presencial vão conviver a partir de agora. É natural a expectativa pelo retorno, mas as escolas privadas estão tomando todos os cuidados de segurança", garante.
O médico infectologista Filipe Prohaska, que atua no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), unidade de referência no tratamento da covid-19 na capital, diz que a dificuldade será evitar, na volta às aulas presenciais, que a criança leve a doença para as pessoas com que convive.
“Por enquanto elas estão isoladas. O grande desafio será quando forem para a escola e retornarem para casa, pois podem levar o coronavírus. Pais, alunos, professores, famílias, todos terão que se reinventar e obedecer aos protocolos, como uso de máscaras, o distanciamento e o cuidado redobrado com a higiene”, alerta Prohaska.
“Não vivemos, como pais e como alunos, essa realidade. Por mais que a gente tenha medo de mandar o filho para escola, é lá o melhor local para ele aprender. Minha filha mesmo vai quando for autorizado. É importante que as escolas deixem muito claro o que vão fazer neste retorno para que as famílias se sintam seguras para deixarem os filhos irem. Mais do que nunca, essa troca entre pais e escolas será fundamental”, diz o médico.
O decreto que suspende as aulas em Pernambuco, de número nº 48.810 e datado de 18 de março, expira na próxima terça-feira (30). Inicialmente, o governador Paulo Câmara não delimitou validade para a suspensão das aulas. Depois, estipulou prazo até 30 de abril. Nesse dia, anunciou nova prorrogação até o último dia de maio. No final de maio, pela segunda vez, o decreto foi renovado e vale até 30 de junho.
A Secretaria de Educação de Pernambuco informa que o plano de retomada das atividades educacionais está sendo construído "com base em estudos na área de educação e com foco na aprendizagem dos estudantes, a partir das orientações e diretrizes das autoridades de saúde". O órgão afirma ainda que experiências internacionais servirão como inspiração.