"Sejam bem-vindos ao novo tempo". É com essa mensagem que alunos da Escola Estadual Dona Maria Teresa Correa, no Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife, serão recebidos a partir de terça-feira (6). Após 203 dias sem aulas presenciais em Pernambuco por causa da pandemia de covid-19, os quase 92 mil jovens do 3º ano do ensino médio, matriculados nas redes estadual, federal e particular, estão autorizados a voltar para a escola. Num cenário bem diferente daquele que deixaram em 18 de março, quando estabelecimentos de ensino foram fechados devido ao novo coronavírus. Embora com realidades adversas, o sentimento de muitos estudantes de colégios públicos e privados é de apreensão. Igualmente ao de suas famílias e professores. Também de incerteza, já que docentes da rede estadual podem deflagrar greve a partir de amanhã, enquanto os da rede privada, em estado de greve, ingressaram na Justiça contra a reabertura dos colégios.
No mundo, o vírus já atingiu mais de 34,4 milhões de pessoas e matou um milhão delas. "Meu medo é que todo o cuidado que tive durante a quarentena, ficando em casa, seja perdido e eu acabe contaminada ou transmita para minhas filhas. Não acho que as escolas estaduais estejam preparadas para voltar às aulas. O protocolo pode até ser seguido na primeira, na segunda, na terceira semana. Depois é grande o risco de ser esquecido. Fico com receio também que falte álcool em gel ou até água. Espero realmente que o governo dê o suporte que as escolas precisam", afirma a professora Selma Menezes, 50 anos, que hoje atua como apoio pedagógico na Escola Dona Maria Teresa, mas já esteve na sala de aula. "Fui aluna daqui, conheço a escola há bastante tempo. Imagino que será difícil vencer o calor, pois as salas são quentes, abafadas", diz Selma. A preocupação dela aumenta porque é mãe de uma adolescente hipertensa e obesa, duas condições que a tornam mais suscetíveis à covid-19.
Na corrida para deixar tudo pronto para receber os alunos, atendendo as regras definidas pelo governo, gestores de escolas estaduais mobilizaram suas equipes. Foi assim na Escola Estadual Tomé Gibson, na Guabiraba, também Zona Norte do Recife. Houve a instalação de duas pias e dispersores de álcool em gel logo na entrada. Nas salas, carteiras marcadas com o distanciamento mínimo de 1,5 metro. No bebedouro, apenas permissão para pegar água com garrafinha ou copo, trazido pelo aluno. "É uma mistura de ansiedade e medo. Estamos com saudade, são muitos dias longe dos alunos e sabemos que muitos têm dificuldade para acompanhar as aulas remotas. Organizamos toda a escola, mas não é fácil lidar com adolescentes", afirma a gestora, Leila Gomes. Lá, são 94 alunos no 3º ano.
Aluna da Escola Estadual Costa Azevedo, em Peixinhos, Olinda, Kayllani Silva, 17, optou por permanecer com as aulas remotas. "Mantenho o isolamento, sem sair de casa. Mas sei de colegas que não estão respeitando e saindo. Na minha sala de aula tem ar-condicionado. Não vai dar para ligar. Por mais que professores e alguns alunos se previnam, acho arriscado. E minha irmã e meu padrasto têm problemas de saúde", justifica Kaylani. Bianca Cavalcanti, 17, aluna do Colégio Equipe, no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife, pensa parecido. "Minha família e eu estamos tomando todos os cuidados para não sermos contaminados. Só que há colegas que não fazem isso. O colégio vai buscar cumprir todo o protocolo. Mas resolvi, com meus pais, que não voltarei por enquanto. Vamos observar os primeiros dias e decidir depois", diz Bianca.
Presidente do Sindicato das Escolas Privadas de Pernambuco, José Ricardo Diniz afirma que a expectativa de retorno é positiva entre as unidades particulares. "As pesquisas feitas pelas escolas apontaram intenção de retorno do ensino médio em torno de 60%. A tendência é ampliar a cada semana. Na nossa rede, a prontidão para a volta na terça-feira, com todo o protocolo, será com a quase totalidade das 400 escolas que têm ensino médio", explica José Ricardo, destacando que houve retornos bem-sucedidos em Manaus (AM), Natal (RN), Fortaleza (CE) e São Paulo (SP). A Secretaria Estadual de Educação não tem estimativa de quanto alunos vão voltar. "Já tive covid, mas ainda tenho medo. Nosso maior desafio será exigir regras numa comunidade que não se preocupa muito em manter cuidados básicos. Mas se Deus quiser, dará tudo certo", ressalta a diretora da Escola Maria Teresa, Irene de Aguiar. A torcida é para que a frase colocada num dos corredores da escola — "Tudo vai ficar bem" — seja realidade.