Conselho Estadual de Saúde de Pernambuco recomenda imediata suspensão de aulas presenciais no Estado
Entidade argumenta que Pernambuco apresenta estado crítico na rede de assistência para pacientes com covid-19. Nesta quinta-feira foram registrados 3.074 novos casos da covid-19 em 24h, número recorde desde o início da pandemia
Atualizada às 18h50
Imediata suspensão das aulas presenciais em Pernambuco, ofertadas em instituições públicas e privadas. Essa é uma das três recomendações do Conselho Estadual de Saúde que constam em uma nota emitida pelo colegiado nesta quarta-feira (05). Entre as justificativas elencadas pela entidade para a adoção da medida está "o estado crítico e persistente de pressão sobre a rede assistencial em função da pandemia de covid-19, com 97% de ocupação de leitos de UTI (em 5 de maio) e a marca de 558 óbitos registrados na semana epidemiológica 17 (25.04.2021 a 01.05.2021), no estado de Pernambuco", diz um trecho do texto.
Por se tratar de uma recomendação, isso não significa que haverá a interrupção das aulas nas unidades de ensino. Cabe ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, junto com o Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, decidir se acata ou não a sugestão do conselho.
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O conselho é presidido pelo secretário estadual de Saúde, André Longo. Participam 32 entidades. Há representantes de três segmentos: usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), trabalhadores do SUS e gestores/prestadores do sistema. Este ano, o governo de Pernambuco suspendeu as aulas presenciais no dia 18 de março justamente por causa da alta de casos da doença. E autorizou o retorno em datas diferentes para as redes privada, estadual e municipal.
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Atualmente, todas as redes podem ofertar aulas presenciais. Mas a maioria das escolas municipais permanece fechada. No Recife e em Olinda, por exemplo, não há data ainda para reabertura das unidades municipais com ensino presencial. Em Jaboatão a volta será apenas em agosto. Na rede estadual, professores estão em greve desde 19 de abril justamente por serem contrários às atividades nos colégios diante do atual cenário da pandemia.
Caso o governo acate a recomendação e suspenda as aulas presenciais, a medida afetará, na educação básica, 462 mil alunos das escolas privadas e 542 mil da rede estadual. As rede municipais, a maioria atualmente com aulas remotas, somam cerca de 1,5 milhão de estudantes.
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NÚMEROS DA DOENÇA
O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) nesta quinta-feira (6) registrou 3.074 novos casos da covid-19 em 24h, número recorde desde o início da pandemia em Pernambuco, em março de 2020.
Do total, 144 (4,5%) são casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e 2.930 (95,5%) são leves. Agora, Pernambuco totaliza 418.003 casos confirmados da doença, sendo 41.127 graves e 376.876 leves. Também foram confirmados 52 óbitos, ocorridos entre 14 de novembro de 2020 e 05 de maio de 2021. Com isso, o Estado soma 14.385 mortes provocadas pela doença.
VACINAÇÃO
Para reforçar o pedido de fechamento dos estabelecimentos de ensino, o Conselho Estadual de Saúde cita a recomendação do Conselho Nacional de Saúde nº 8, de 26 de abril de 2021, que indica: “III - Que não sejam retomadas as aulas presenciais durante a pandemia, mesmo que haja fomento dos empresários da educação, até que ocorra a realização de vacinação em massa, com planejamento adequado e medidas efetivas para que as escolas tenham melhores condições de receber os estudantes e os trabalhadores”.
No Estado, apenas o Recife começou a vacinação dos trabalhadores da educação. Até a última terça-feira (04), 5.212 pessoas que atuam nas escolas da capital tinham sido vacinadas, segundo o vacinômetro, painel virtual mantido pela prefeitura. A estimativa da gestão municipal é imunizar 16 mil pessoas desse público.
COBRANÇA
Em outro trecho da nota, o Conselho Estadual de Saúde destaca que "há necessidade de se acompanhar a tendência de número de infectados, óbitos, taxa de cobertura vacinal, monitoramento de sintomáticos respiratórios e comunicantes de casos de covid-19, cobertura de testagem e taxa de ocupação de leitos de enfermaria e UTI, e, o sistema de saúde expressa colapso por uma taxa de ocupação de leitos de UTI acima de 90%, combinado com registros diários de óbitos".
O colegiado reivindica "o protagonismo do governo estadual", ao ressaltar que "a persistência da ocupação de leitos de UTI acima de 90% no Estado e da ocorrência de óbitos desde março de 2021, impõem medidas emergenciais de proteção à vida, e não podemos aceitar a naturalização da situação atual".
A nota vai ser enviada ao Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19 em Pernambuco, a todos os Conselhos Municipais de Saúde, à Assembleia Legislativa de Pernambuco e ao Ministério Público de Pernambuco.
REPERCUSSÃO
"Entendemos que a recomendação do Conselho Estadual de Saúde é prudente considerando o atual o momento da pandemia no nosso Estado. Temos alertado às Secretarias de Educação quanto à importância de se consultar os profissionais de saúde quando do possível retorno das atividades pedagógicas presenciais. O cenário atual requer de todos nós muita sensatez, equilíbrio e discernimento acerca das decisões a serem tomadas, pois estamos vivendo o pior momento da pandemia", afirma o presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e secretário municipal de Educação de Belém de Maria, Natanael Silva.
"Nos angustia perceber o quanto tem sido danoso os efeitos da pandemia na educação, em particular na educação pública. O que mais urgentemente desejamos é o retorno das atividades presenciais com nossas crianças, jovens e adultos, mas isso precisa acontecer com segurança, resguardando a proteção e o direito a vida de todos", ressalta Natanael.
A Undime Pernambuco, que congrega os 184 dirigentes municipais de Educação, encaminhou ao governador Paulo Câmara e ao secretário estadual de Saúde, André Longo, solicitação para inclusão dos professores e profissionais da educação no grupo prioritário de imunização da covid-19.
A coordenadora geral do Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Recife (Simpere), Claudia Ribeiro, também concorda com a recomendação do Conselho Estadual de Saúde, embora as escolas municipais da capital permaneçam fechadas e sem anúncio ainda, pela prefeitura, de quando serão reabertas.
"O que está acontecendo hoje tem sido anunciado por algumas entidades científicas, na medida em o governo não tomou as ações necessárias como lockdown de verdade e complementação de auxílio emergencial, garantindo apenas as atividades essenciais. Manter as escolas abertas diante desse quadro é uma temeridade, é não se preocupar com a vida dos profissionais da educação, dos alunos e de toda comunidade", enfatiza Claudia.