De cada 10 alunos matriculados nas escolas municipais de Olinda, sete não estão acompanhando regularmente o ensino remoto, um índice de 70% que preocupa a gestão. E que dobrou se comparado com 2020, quando essa taxa era de 33%. A 20 dias para iniciar a reabertura dos colégios para aulas presenciais, fechadas desde março do ano passado por causa da pandemia de covid-19, a prefeitura está realizando uma força-tarefa para encontrar esses estudantes que não estão participando das atividades virtuais. Quer convencê-los a voltar para o ensino presencial.
Com a ajuda de agentes de saúde, conselheiros tutelares, líderes comunitários e religiosos e funcionários das próprias unidades educacionais, a Secretaria Municipal de Educação lançou o Projeto Tô Voltando, a fim de conscientizar as famílias para que os alunos voltem a estudar. As primeiras turmas a retomarem os estudos presencialmente, no dia 13 de setembro, serão dos 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e dos níveis IV e V da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A cada semana novos grupos vão voltar. Toda a rede terá retornado em 18 de outubro.
"Estamos mobilizando a sociedade, equipes gestoras e nosso corpo técnico para trazer esses alunos de volta para escola. Nosso índice de infrequência é de 70%. É aquele estudante que não abandonou completamente os estudos, mas que não faz as tarefas ou passa períodos sem acompanhar as atividades. E que corre o risco de mais na frente abandonar de verdade", explica o secretário de Educação de Olinda, Paulo Roberto Souza.
"É uma taxa que muito nos preocupa e que vem aumentando gradativamente. Ano passado tivemos 77% de frequência no ensino remoto e 33% de infrequência", diz Paulo Roberto. "Nossa expectativa é que com a reabertura das escolas e a volta do ensino presencial a gente consiga resgatar esses alunos", complementa o secretário de Educação.
"São diversos fatores que afastam essas crianças e adolescentes e que é um fenômeno em todo Brasil por conta da pandemia: muitos perderam os pais, se mudaram ou acreditam que as aulas não vão voltar, por exemplo", destaca a diretora do Departamento de Acompanhamento Pedagógico e Programas e Projetos, Rosa Rodrigues.
No ensino presencial, haverá rodízio semanal, ou seja, cada turma vai ser dividida em duas para que seja possível manter o distanciamento mínimo de um metro entre os alunos, exigência imposta pelo protocolo sanitário do governo estadual. Por isso, a cada semana um grupo vai para escola e outro ficará em casa acompanhando as aulas remotas. A rede municipal de ensino de Olinda tem 72 escolas com 25.903 estudantes matriculados, da educação infantil, ensino fundamental e EJA.
A dona de casa Maria José de Oliveira, 63 anos, cuida de cinco netos, com idades entre 5 e 17 anos. As três netas caçulas, Ester, 10, Stefane, 7, e Letícia, 5, estudam na Escola Municipal Maria da Glória Advíncola, que fica no bairro de Guadalupe, no Sítio Histórico de Olinda. As professoras mandam diariamente tarefas pelos grupos de whatsapp e pela plataforma virtual mantida pela prefeitura. Sem aparelho de celular e computador, as meninas não acompanham as aulas remotas.
Estavam apenas respondendo as tarefas impressas que a avó pegava semanalmente na escola. Mas desde o retorno das férias de julho, um mês atrás, que não fazem mais. "Eu não sabia que as férias tinham acabado. Foi um funcionário da escola que me deu o recado dizendo que a diretora queria falar comigo", conta Maria José.
"Só meu marido tem celular e ele passa o dia fora trabalhando. Por isso minhas netas não viram as aulas online. Só fizeram as tarefas. Quero muito que voltem logo pra escola. Por mais que eu me esforce ajudando com os exercícios, a professora ensina melhor. E tem a merenda, os coleguinhas", comenta a dona de casa.
Segundo a direção da Escola Maria da Glória, metade dos alunos, de um universo de 320 estudantes, não retomou a rotina escolar remota após o recesso de julho. "Percebemos que cerca de 50% dos alunos não voltaram a acompanhar as atividades. Por isso estamos nessa busca ativa junto às famílias. Está havendo um abismo educacional por conta da pandemia, causando grandes prejuízos para nossos alunos", observa a diretora Suely Oliveira.
Na Escola Municipal Claudino Leal, no bairro da Tabajara, a busca dos alunos ausentes conta com ajuda de um dos porteiros. De moto, Amauri Ferreira Filho, 42, percorre ruas e becos atrás dos estudantes que estão sem participar do ensino remoto. Tarefa que já fazia antes da covid-19, mas que foi intensificada com a pandemia e o aumento do sumiço dos estudantes.
"Primeiro telefonamos para os números que os pais informam na ficha de matrícula. Como muitos trocam de número, não conseguimos contato. As professoras tentam localizar nos grupos de whatsapp ou com vizinhos que conhecem o aluno. Quando não dá certo, Amauri ajuda indo pessoalmente procurar a família", explica a diretora, Patrícia Coruso. A escola tem 850 alunos, da educação infantil aos anos finais do fundamental.
"Formei família cedo e não pude correr atrás para estudar mais. Queria ter feito faculdade. Por isso corro atrás dos estudantes da escola para que não deixem os estudos. É gratificante quando eles voltam", assegura Amauri.
Na Escola Municipal 19 de Setembro, localizada em Águas Compridas, uma das estratégias foi a produção de um vídeo usando os personagens do filme Procurando Dory, da Disney.
"De início as professoras preencheram um formulário informando o nome dos alunos que não estavam participando das aulas remotas. A partir dessa informação, criamos um conjunto de ações para conscientização das famílias, como vídeos para circular nos grupos de aula do zap, reuniões presenciais com os pais e cartas entregues nas residências daquelas famílias que não possuem celular", explica a diretora, Adailza Madalena. O colégio tem 225 alunos.
A pequena Regina Vitória, de 3 anos, caminha pelas ruas da Várzea, onde mora, na Zona Oeste do Recife, carregando cadernos e lápis, e avisando que vai à creche. A mãe, a autônoma Maria Aparecida da Silva, explica que ela não pode ir, já que, há dois anos, tenta sem sucesso uma vaga na rede de ensino municipal. As 61 instituições disponíveis atualmente na capital pernambucana não suprem a demanda desta e de outras famílias, que buscam alternativas para o que é dever do Estado oferecer. Visando suprir essa oferta, a Prefeitura do Recife lançou nesta terça-feira (24) um programa que promete dobrar o número de creches na cidade e ofertar mais de sete mil vagas até 2024, fim do mandato do prefeito João Campos (PSB).
O Infância na Creche será dividido em quatro grandes eixos: construção de novas creches com foco na expansão da infraestrutura própria; ampliação e requalificação de unidades já existentes, permitindo o aumento de vagas e melhoria da estrutura; parcerias com instituições sem fins lucrativos, atuando em conjunto com unidades comunitárias vinculadas a ONGs, Fundações e Cooperativas Educacionais; e estudos para parceria público privada (PPP), que deverá viabilizar a construção de creches através de parcerias.
Com um aporte de R$ 150 milhões, advindos do próprio tesouro municipal, o programa ainda deve criar uma estratégia permanente para os "próximos dez anos, voltada para esta importante etapa, para as famílias e para o desenvolvimento das crianças, além de estar alinhado também com o Plano Municipal para Primeira Infância do Recife", de acordo com a gestão.
Segundo dados da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal divulgados em 2020, cerca de 57% das crianças de até 3 anos estavam fora das instituições no Recife em 2018, ano do último resultado disponível, sendo a quarta capital do Brasil com maior demanda de creches. É importante ressaltar, ainda, que os pais não são obrigados por lei a matricular os pequenos em creches, no entanto, a Constituição Federal prevê como direito a oferta destas instituições para todas as crianças de até 3 anos, com os estados, o Distrito Federal, os municípios e a União devendo organizar o sistema de ensino em regime de colaboração.
Na vida de Aparecida, no entanto, a lei não é cumprida. Por ter um fiteiro dentro da própria casa, o cuidado com a menina é facilitado enquanto o comércio está aberto; mas, quando precisa fazer compras, precisa levá-la junto. “Eu tenho que sair para comprar mercadoria, ir no Ceasa, na cidade, em Camaragibe. Vivo andando atrás de promoção, e tenho que levá-la, porque não tenho com quem deixar”, disse. “Em 2019, consegui vaga em uma creche na UR-7, mas precisava pagar quatro passagens de ônibus por dia, não tinha condições. Tentei em 2020 e em 2021, mas não consigo. É muito difícil porque não tenho condições de colocá-la em um colégio de bairro. É mensalidade, farda, material…”, relata.
Segundo a Prefeitura do Recife, o Infância na Creche fez-se ainda mais necessário na pandemia da covid-19, que ampliou a busca por vagas. Em entrevista ao JC, o secretário de Educação do Recife, Fred Amâncio, disse que a cidade conta, agora, com 6.500 vagas em creches, o que atingiria em torno de 40% do público-alvo. Por isso, ele elenca a meta de dobrar esse número como “ousada”, ainda que não cubra toda a demanda existente. "Sabemos que a oferta de hoje não atende. Diferentemente da escola, a creche ainda é uma opção dos pais, mas sabemos que com o passar do tempo a demanda por creche vem crescendo", afirmou.
O secretário pontuou que cinco creches estão em obras neste momento. "Em setembro, inauguramos duas. Em outubro, mais outras", disse. Outras 10 passam estão na fase de projeto ou de licitação, e mais 13 em ampliação.
O Sindicato de Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere) participou no começo deste mês de agosto de uma audiência municipal na Câmara do Recife para cobrar prazos e políticas públicas que atendessem à demanda na educação da cidade. Entre os pontos apresentados, estava a expulsão das mães do mercado de trabalho, por precisarem cuidar dos filhos em casa. Pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) salientou o problema, ao dizer que 40% das mulheres saem do mercado formal de emprego depois de serem mães, e esse número se mantém por cinco anos após o nascimento dos filhos.
A coordenadora do Simpere, Cláudia Ribeiro, avalia que a oferta de vagas é um passo para a concretização do direito à educação, apesar de ainda não atender a todas a famílias necessitadas, e defende mudanças em relação às matrículas e maior transparência com as comunidades. “A matrícula é feita online, não na unidade educacional, e as famílias tiveram dificuldade em ter acesso aos conteúdos pedagógicos por não terem acesso a dados móveis [na pandemia]; então nem todos conseguiram vagas. A própria comunidade sequer sabe se a unidade que está no seu bairro, próxima à sua casa, tem vaga ou não; porque não tem acesso a ela”, disse.
EM CONSTRUÇÃO
Creche Escola Deputado Alcides Teixeira (Santo Amaro)
Creche Municipal da Imbiribeira
Creche Municipal do Brejo da Guabirada
Creche Municipal Caranguejo Tabaiares
Creche Municipal da Estância
PROJETOS DE AMPLICAÇÃO (EM OBRAS E A LICITAR)
Creche Francisco do Amaral (Santo Amaro)
Creche Vovô Arthur (Coelhos)
Creche Mãezinha do Coque (Ilha de Joana Bezerra)
Creche Escola Ana Rosa Falcão de Carvalho (Santo Amaro)
Creche Escola Celeste Vidal (Guabiraba)
Creche Escola Alcides Restelli Tedesco (Madalena)
Creche Escola Dona Carmelita Muniz de Araújo (Guabiraba)
Creche Unidos Venceremos (Alto José do Pinho)
Creche Escola de Afogados
Creche Futuro do Amanhã (San Martin)
Creche Escola Recife do Ibura
Creche Recife 2000 (Areias)
Creche Escola Recife Esperança (San Martin)
PROJETOS DE CONSTRUÇÃO (EM LICITAÇÃO)
Creche Municipal da Várzea
Creche Municipal de San Martin
Creche Municipal Aeroclube (Pina)
Creche Municipal da Linha do Tiro
Creche Municipal do Córrego do Deodato (Água Fria)
Creche Municipal Vila Felicidade (Caxangá)
Creche Municipal Cosme Damião (Várzea)
Creche Municipal do Passarinho
Creche Municipal do Coqueiral
Creche Municipal de Monteiro
Creche Municipal da Ilha de Deus