A Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam), que fica no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife, estimula o empreendedorismo na rotina escolar com a perspectiva de os alunos desenvolverem produtos ou ações que contribuam para solucionar problemas sociais e ambientais. Assim nasceu o Life Up, programa que colocou a unidade de ensino como finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo (“World’s Best School Prizes em inglês).
Organizada pela instituição britânica T4 Education, em parceria com Fundação Lemann, Fundação Templeton World Charity, Accenture, American Express e Yayasan Hasana, a premiação escolheu 50 escolas em todo o mundo. As unidades se candidataram e passaram por uma seleção. A Etepam está entre as 10 com melhores projetos na categoria inovação.
Outros dois colégios brasileiros integram a lista das 50 melhores no planeta: uma escola da rede municipal de Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, e outra, também municipal, da cidade gaúcha de Novo Hamburgo.
As demais finalistas são unidades de países como Chile, Japão, Reino Unido, África do Sul e Jamaica, entre outros. Além de inovação, há as categorias colaboração comunitária, ação ambiental, superação da adversidade e apoio a vidas saudáveis.
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A premiação terá mais duas etapas. Em setembro serão anunciadas as três melhores escolas de cada categoria. Já as vencedoras vão ser conhecidas durante a Semana Mundial da Educação, em outubro. Cada escola vencedora receberá prêmio de 50 mil dólares.
ETEPAM
Estudam na Etepam 780 alunos, em horário integral (aulas de manhã e à tarde, de segunda à sexta-feira, das 7h20 até 17h). Para ingressar nela é preciso ser aprovado numa seleção, realizada duas vezes ao ano pela Secretaria de Educação de Pernambuco.
A escola oferece ensino médio integrado, quando é feita formação média e ensino técnico ao mesmo tempo; e o técnico subsequente, voltado para os jovens que já concluíram o ensino médio e vão fazer somente a parte técnica. Há cursos de mecatrônica, mecânica, logística, manutenção e suporte em informática, edificações e química.
O Life Up foi implementado pelo professor Eraldo Guerra. Aconteceu na Etepam entre os anos de 2010 a 2015. Atualmente o docente leciona em outra concorrida escola técnica da rede estadual, a Cícero Dias, que fica em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, onde ele também implementou o projeto.
"O Life Up continua vivo, só que na Cícero Dias. Levei também para o ensino superior", conta Eraldo, que é engenheiro de software de formação.
PRODUTOS
O primeiro projeto do Life Up, na Etepam, foi em 2010: o desenvolvimento de tijolos ecológicos fabricados com fibra de coco, batizado de construcoco. "Com isso reduzimos o impacto do descarte do coco no meio ambiente", ressalta Eraldo. O produto foi destaque em feiras científicas no Brasil e recebeu prêmios.
Nos anos seguintes, até 2015, quando Eraldo ainda era docente da escola, os alunos dos cursos de edificações, design de interiores, redes e logística desenvolveram outros projetos como uma biomanta feita de amido de macaxeira para diminuir as inundações; um aplicativo de mobilidade para cadeirantes terem rotas seguras de circulação no Bairro do Recife; e um software para ajudar no aprendizado de alunos autistas.
A Etepam concorre com escolas de outros oito países: Chile, Grécia, Japão, Emirados Árabes, Malásia, Índia, Reino Unido e Zimbábue. A Índia é a única que tem dois colégios na disputa.
Na descrição do prêmio, a T4 Education diz que escolheu iniciativas de escolas que "estão quebrando a tradição com práticas para vencer desafios e acelerar o progresso para melhorar a educação, através de abordagens inovadoras".
"Estou muito feliz e surpreso por estarmos, com a Etepam, na final de uma premiação mundial. Foi lá que Life Up cresceu e depois foi aplicado em outras instituições e na formação de educacores", diz Eraldo.
"É uma escola que acredita demais nos trabalhos dos professores e isso faz total diferença", comenta o professor, que além da Cícero Dias leciona na Faculdade São Miguel. "Na Etepam sempre houve a preocupação de criar um cenário educacional que promova valores sociais, empatia, criatividade e desenvolvimento de projetos que possam fazer a diferença na vida das pessoas", observa.
INDÚSTRIA
"Nossa escola é muito dinâmica. Atualmente temos um centro de inovação e manufatura montado pelas Secretarias de Educação e de Ciência, Tecnologia e Inovação. Nosso foco é pensar produtos que contribuam sobretudo para a indústria", explica a diretora da Etepam, Andréa Vieira.
Este ano os alunos já desenvolveram um protótipo de um braço de robô para ser usado na indústria; e um sensor que acende lâmpada a partir da voz. "Embora o Life Up não exista mais como projeto, temos essa cultura na escola", afirma Andréa.
O governo iniciou este ano a implementação dos Espaços 4.0, cujo foco é empreendedorismo e formação em habilidades de futuro. Nesses centros, um deles instalado na Etepam, a ideia é abordar manufatura avançada, cultura maker, economia criativa e circular, negócios 4.0, inteligência artificial e ciência de dados.
DESAFIOS
Entre os desafios está melhorar a infraestrutura da escola. Com as últimas chuvas, algumas salas tiveram infiltrações. "Também é preciso investir em mais equipamentos. Temos três laboratórios de informática e algumas máquinas são muito antigas", diz o estudante Kaiki Bezerra, 17 anos, aluno do curso técnico de manutenção e suporte em informática.
Embora destaque a necessidade de investimentos nos laboratórios, Kaiki elogia a escola. "Os alunos são acolhedores. Antes de estudar aqui não conseguia me expressar direito. Fui muito bem recebido. Os professores também são bons", diz o estudante.
"A maior prova que a escola é boa é que sempre tem ex-aluno voltando paea visitar. E a maioria é está empregada", afirma Kaiki.