Sem dinheiro, UFRPE poderá suspender aulas, pesquisas e atividades administrativas a partir de novembro

UFRPE e as outras 68 universidades federais brasileiras sofrem os efeitos do corte de verbas do governo federal. Rural perdeu R$ 4,4 milhões para despesas de custeio. Se MEC não recompor orçamento, funcionamento da instituição poderá ser suspenso
Margarida Azevedo
Publicado em 07/09/2022 às 15:08
UFRPE tem câmpus no Recife, Cabo de Santo Agostinho, Belo Jardim e Serra Talhada. Comunidade acadêmica tem cerca de 22 mil pessoas Foto: Divulgação


As aulas e atividades administrativas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) correm o risco de serem suspensas a partir de novembro, quando começa o primeiro semestre letivo de 2022. Pesquisas também podem ser prejudicadas. Segundo o reitor Marcelo Carneiro Leão, só há dinheiro para pagar contas básicas como água, energia e segurança até outubro.

A comunidade acadêmica é formada por cerca de 22 mil pessoas entre alunos, professores, técnicos e profissionais terceirizados. A Rural tem câmpus em quatro cidades pernambucanas: Recife, Cabo de Santo Agoatinho (Região Metropolitana), Belo Jardim (Agreste) e Serra Talhada (Sertão). Há ainda o Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas, que fica em São Lourenço da Mata, no Grande Recife.

Todas as 69 universidades federais foram afetadas com corte de verbas repassadas pelo governo federal. Na UFRPE, a diminuição foi de R$ 4,4 milhões para despesas de custeio, que envolvem pagamentos de contas de energia e água e todos os contratos terceirizados, como segurança, limpeza e motoristas. No orçamento estava previsto o repasse de R$ 57,4 milhões para 2022.

NEGOCIAÇÃO EM BRASÍLIA

"Vou até Brasília na próxima semana para tentar recomposição do orçamento. Se não houver sinalização positiva do Ministério da Educação, pretendo convocar os três conselhos da UFRPE para debater o funcionamento ou não da universidade em novembro e dezembro, já que não temos recursos de custeio para as despesas nesses dois meses", explica Marcelo Carneiro Leão.

O reitor estará na capital federal na quinta-feira da próxima semana (dia 15) e deverá ser recebido pelo secretário de Educação Superior do MEC, Wagner Vilas Boas. Em 2019, a UFRPE recebeu para custeio R$ 70,5 milhões. Em 2020 foram R$ 68,1 milhões e no ano passado, R$ 55,5 milhões.

Nacionalmente, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) está tentando, junto ao Congresso Nacional, que seja aprovado um projeto de lei para assegurar verbas para que as instituições consigam ao menos arcar com as despesas deste ano.

ANO LETIVO DE 2022

Os três conselhos que o reitor se referiu e que serão convocados para decidir o funcionamento da instituição, caso não entrem recursos federais este ano, são o Universitário, o de Ensino, Pesquisa e Extensão e o de Curadores. Na graduação estudam na Rural cerca de 13 mil alunos. Há mais três mil na pós-graduação.

Atualmente a UFRPE está no segundo semestre letivo de 2021. Houve atraso por causa da pandemia de covid-19. As aulas para as graduações vão até 8 de outubro. Depois haverá férias. O primeiro semestre letivo de 2022 está programado para começar em 8 de novembro.

CENÁRIO NA RURAL

Na semana passada, Marcelo Carneiro Leão externou para os diretores das unidades acadêmicas e coordenadores dos cursos a preocupação com o cenário desafiador da Rural diante da falta de verbas. "Os sentimentos são de tristeza e preocupação pois há o risco real de termos que suspender as atividades", diz o reitor.

"Já tivemos atrasos nos semestres acadêmicos por causa da pandemia. Tanto que o ano letivo de 2022 só começará em novembro. Cortamos despesas com aulas práticas, bolsas e viagens para nos adequar, mas não há mais de onde tirar", comenta o pró-reitor de administração, Mozart Oliveira. Só com energia, a Rural gasta em média R$ 600 mil por mês, segundo o pró-reitor.

"Em anos passados o orçamento estava bloqueado, então dava para resolver. Agora nem isso. É muito sério pois não temos dinheiro para algumas despesas já em outubro", diz o pró-reitor de administração.

Em meio ao grave problema, a única notícia boa é que as verbas previstas para assistência estudantil estão asseguradas até dezembro, de acordo com Mozart Oliveira.

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