USP adota cota de 20% para pretos, pardos e indígenas em seus concursos

As próximas seleções deverão separar 20% da vagas para esse público. Atualmente, a USP tem 119 docentes pretos e pardos e um indígena em um total de 5 mil
Estadão Conteúdo
Publicado em 22/05/2023 às 22:54
A USP tem cerca de 45% dos estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, por causa de um programa de cotas Foto: CECÍLIA BASTOS/USP IMAGENS


A Universidade de São Paulo (USP), mais conceituada instituição de ensino do País, aprovou cotas para pretos, pardos e indígenas em seus concursos públicos para professores e servidores técnicos administrativos.

As próximas seleções deverão separar 20% da vagas para esse público. Atualmente, a USP tem 119 docentes pretos e pardos e um indígena em um total de 5 mil.

"Quando as pesquisas são feitas por um grupo muito homogêneo de pessoas, ficam limitadas aos temas que importam a elas. Com diversidade maior, amplia seus horizontes, suas perguntas e fica mais próximo da sociedade" disse ao Estadão o reitor da USP, Gilberto Carlotti Junior, sobre a medida. A intenção é, segundo ele, ter "mais qualidade nas pesquisas".

Além disso, diz, a universidade busca refletir a diversidade de alunos entre professores e técnicos. A USP tem cerca de 45% dos estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, por causa de um programa de cotas. "Não vamos conseguir fazer isso do dia para noite, como conseguimos aumentar com os alunos, porque o professor fica 30, 40 anos na universidade, mas vai mudando a situação", afirmou.

PREVISÃO

Segundo o reitor, a USP abrirá cerca 500 vagas até 2025 para professores. Com as cotas, o número de docentes pretos, pardos e indígenas deve dobrar, com cerca de mais cem contratados.

O índice de 20% será aplicado para concursos que tiverem mais de três vagas. No caso em que houver menos, o que é comum, a universidade usará a chamada pontuação diferenciada, que está estabelecida em decreto estadual.

Ela leva em consideração a pontuação média dos candidatos em concorrência e a dos pretos, pardos e indígenas - depois dá uma bonificação para o segundo grupo.

A USP já havia sido questionada três vezes na Justiça, com concursos paralisados, por não estipular cotas para pretos, pardos e indígenas, uma vez que uma lei estadual estabelecia a obrigatoriedade.

A política afirmativa para selecionar professores, no entanto, já era uma meta de Carlotti Junior desde que venceu as eleições, como adiantou ao Estadão em dezembro de 2021.

"Se não fizermos de maneira induzida, vai demorar dezenas de anos para ter maior diversidade na universidade."

Recentemente, a instituição lançou também uma bolsa de pós-doutorado, de R$ 8 mil, para pesquisadores negros e criou uma lista de docentes pretos que poderão ser chamados para compor bancas de seleção de professores. Cerca de mil profissionais se candidataram às 50 vagas para pós-doutorado, segundo o reitor.

Em abril, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) aprovou uma meta de ter 37% de seus professores negros em seis anos. Atualmente, esse índice é de 5,34%. Para isso, os próximos concursos, que ocorrem a partir do segundo semestre deste ano, vão selecionar somente docentes pretos e pardos.

As universidades federais também precisam seguir uma lei para concursos da União, que estabelece 20% das vagas para pretos, pardos e indígenas, mas há disputas na Justiça para que seja cumprida efetivamente.

Nos últimos anos no País, e depois da Lei de Cotas aprovada em 2012, aumentou o número de instituições com políticas afirmativas no ingresso de alunos. Mas o mesmo não ocorreu entre funcionários e professores.

ALUNOS

No ano passado, a USP teve 50,2% de alunos egressos de escolas públicas matriculados na graduação. A novidade para este ano foi a comissão de heteroidentificação no processo de matrícula, que avalia os candidatos classificados que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas.

O mesmo vai valer para contratações, com autodeclaração e análise por comissão.

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