Após ser alvo de censura, o livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, se tornou o mais vendido da Amazon. Segundo a empresa, as vendas de cópias da obra aumentaram em 400% desde a última sexta-feira, 1º.
O livro, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, foi motivo de polêmica em uma escola de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. A diretora da instituição de ensino publicou um vídeo criticando a obra nas redes sociais.
Na publicação, Janaína Venzon diz que O Avesso da Pele é uma obra de baixo nível para ser trabalhada com alunos do ensino médio. Ela também solicitou que o Ministério da Educação recolhesse as cópias presentes na escola em que trabalha.
O livro faz parte do PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) desde 2022 e aborda temas como o racismo estrutural e violência policial. As próprias escolas indicam livros considerados importantes, e então eles são comprados.
REPERCUSSÃO NAS REDES SOCIAIS
A questão repercutiu nas redes sociais e internautas mostram apoio a Jeferson Tenório. O livro será recolhido em todas as escolas sob jurisdição do NRE (Núcleo Regional de Educação) de Curitiba, segundo o ofício circular emitido nessa segunda-feira (4) na capital paranaense. O autor lamentou a decisão em seu Instagram.
Nos comentários, seguidores mostram apoio ao autor: "Absurdo. Teu livro é mais do que necessário", disse um. Outra seguidora comentou que o livro faz parte de sua tese de doutorado: "O Avesso ainda será pauta de muita leitura e resistência", disse.
Em conversa com o Estadão, na segunda-feira Jeferson destacou que observa um aumento no conservadorismo, que "evita confrontar as realidades do racismo, machismo e violência policial, não apenas no Brasil, mas globalmente".
LIVRO TAMBÉM RECOLHIDO EM GOIÁS
Após ser recolhido das escolas do Paraná, o livro O Avesso da Pele está sendo recolhido em Goiás. A informação foi divulgada no Instagram da Companhia das Letras, editora responsável pela publicação da obra. O Estadão procurou a Secretária de Educação de Goiás, mas até o momento da reportagem não obteve resposta. O espaço segue aberto.
"A decisão de recolher um livro previamente aprovado e selecionado por uma banca de educadores, especialistas, mestres e doutores em literatura não apenas prejudica a qualidade da educação oferecida às nossas crianças e jovens, mas também mina a confiança no próprio programa (PNLD) e nas instituições responsáveis por sua implementação. Além disso, ela representa um grave ataque à liberdade de expressão e ao pluralismo de ideias, princípios fundamentais de uma sociedade democrática", diz a nota.
A editora também pediu um posicionamento por parte do Ministro da Educação em defesa do Programa Nacional do Livro Didático. "Embora O Avesso da Pele tenha sido avaliado, aprovado e comprado na gestão anterior, é fundamental que o governo reafirme seu compromisso com a educação de qualidade, a liberdade de expressão e o respeito à diversidade, garantindo que a PNLD continue a desempenhar seu papel fundamental sem interferências arbitrárias e ideológicas."
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais