Em reunião realizada por videoconferência no último sábado, o governador Paulo Câmara (PSB) convocou parte do primeiro escalão para orientar um maior rigor na fiscalização do decreto de isolamento social em cinco municípios. Após uma primeira semana sem muitas mudanças era preciso recuperar o tempo perdido. Foi determinado um maior número de equipes nas ruas, aumento no número de bloqueios para inibir a circulação de veículos.
O resultado: índices de confinamento ainda muito longes do considerado ideal. E caindo. É só ver o exemplo do Recife: na última terça-feira (19) a taxa foi de 54%. Na terça 26 de maio caiu para 50,9%.
Em Olinda, cuja taxa era de 54% no dia 19, uma queda para 50,4% nesta terça-feira 26. O cenário nos outros três municípios não foi diferente: em São Lourenço da Mata, decréscimo de 50% para 47,9%. Já em Jaboatão dos Guararapes, de 51% para 47,1%. Em Camaragibe, de 51% para 47%.
O governo apostou tudo numa cartada mais dura que, a depender do resultado, poderia justificar uma abertura gradual das atividades no Estado. Mas, pelo que tudo indica nos dois primeiros dias úteis da última semana do lockdown, vai amargar uma ampla desobediência por parte da população.
Não deveria ser assim, é verdade. O ideal para domar o monstro da covid-19 seria que partisse das próprias pessoas a iniciativa de evitar as ruas. Mas há outras coisas em jogo, o debate não é tão simples quanto a classe média em seus home offices e levantando hashtags possa supor. Após dois meses, principalmente nas periferias, parece aumentar o sentimento de "vamos nos virar por nós mesmos". Pequenos comércios abrem sem qualquer cerimônia - e por necessidade, que fique claro. Como convencer a "ficar em casa" quem precisa ir às ruas para tirar o sustento?
O fato é que, por hesitação ou cálculo político, os governos de uma forma geral demoraram a tomar as medidas mais duras de isolamento. A depender do timing poderiam, sim, ter um maior apoio da população.
Agora não adianta mais muita coisa. É continuar com o lockdown - expressão de cujo custo político os poderes público fugiram como o Diabo foge da cruz - e, fatalmente, terminar com números ainda piores a vigência do decreto que deveria servir para achatar a curva epidêmica.
Mais ou menos como aquele time que, perdendo de goleada, tem que correr até o final dos 90 minutos mesmo sabendo que o placar não será alterado.