Dentre os métodos utilizados pelo governo da China para controlar a população está a rígida censura ao conteúdo acessado pela internet. A “muralha”, neste caso digital, do regime chinês é quem monitora os usuários conectados e mantém os chineses longe, isolados do mundo ocidental – e de seus costumes, portanto.
Como isto é feito? Com um sofisticado sistema online e uma enorme lista, em inglês, atualizada constantemente, o governo bloqueia quase que por completo todos os principais sites e redes sociais acessados pelo mundo todo, inclusive pelos brasileiros.
É o caso do Grupo Google, por exemplo. Com o bloqueio da ferramenta de pesquisa mais poderosa do mundo, todas as aplicações da empresa norte-americana também não funcionam por lá: Gmail, Google Maps e até mesmo o YouTube. Facebook, por sua vez, não pode ser acessado, junto ao Twitter, Instagram e WhatsApp, instável e útil apenas às vezes para a troca de mensagens de texto em território chinês – áudios, fotos e vídeos jamais completam o envio.
“A população não vê desta forma, como uma ‘bolha’, porque essa ‘bolha’, teoricamente, não existe para ela”, explica Lincoln Fracari. “O governo faz isso para evitar que eles tenham contato com o ocidente, para reduzir o ‘Soft Power’ (influência sobre comportamentos) norte-americano e para fortalecer a cultura chinesa”, complementa o diretor comercial da China Link Trading, que mora na cidade de Shenzhen, na China.
Fracari ainda garante que os chineses “são acostumados” e “confiam plenamente” nas decisões do governo. Ele, que mantém relações com a filial e clientes do Brasil, utiliza-se de uma VPN (Rede Particular Virtual, siga em inglês) de um servidor especializado e privado para entrar na internet e ter o acesso ilimitado – e com criptografia das informações.
O brasileiro, vivendo há praticamente dez anos no país asiático, ressaltou que esta se trata de uma prática comum entre empresas que possuem relações internacionais, e afirmou não se tratar de uma atividade criminosa, apesar de ser praticamente impossível conseguir uma autorização legal para tal.
“Eventualmente, perto de datas ‘sensíveis’ – aniversário do partido, alguma data especial do passado, como Revolução Cultural –, fica bem ruim os acessos às VPNs”, acrescenta.
Como os chineses se relacionam no mundo digital, então?
A população da China não tem acesso às redes sociais do Ocidente, mas nem por isso deixa de estar conectada – pelo contrário. Com uma espécie de “espelho” dos aplicativos que conhecemos e utilizamos, o governo chinês replica e até fomenta a socialização digital, desde que ela não “cruze fronteiras”.
Os mais usados pelos chineses são o BaiDu e o WeChat (ambos em tradução para o inglês), até pelos recursos oferecidos. Enquanto o primeiro substitui o Google, é a ferramenta de pesquisa referência no país asiático e tem funções de imagem, mapa etc., o segundo recria o WhatsApp e o Instagram ao mesmo tempo, e tem um módulo de pagamento inserido no aplicativo. Assim, os chineses digitalizam e pagam suas contas pelo WeChat. (Abaixo, veja os sites e aplicativos da China).
BaiDu = Google – A ferramenta é eficiente apenas se utilizada em mandarim. Em inglês, ou em qualquer outra língua, pouco funciona.
WeChat = WhatsApp e Instagram – Além das janelas de bate-papos, os chineses têm um recurso que é basicamente a cópia do Instagram neste aplicativo. É possível dentro dele postar fotos e interagir com curtidas e comentários.
Weibo = Twitter e Facebook – Em desuso na China, o Weibo tem funções muito semelhantes às do Twitter, mas é um pouco mais visual, apto a ter imagens e vídeos, e por isso também engloba o Facebook.
YouKu = YouTube – YouKu é o principal substituto do YouTube, e também tem as publicações monitoradas a todo momento pelos órgãos estatais.
QQ = Skype – O Skype, recentemente proibido na China, tem as funções replicadas no QQ, cada vez mais em desuso por conta do WeChat disponibilizar ligações por áudio e vídeo.
Outro alvo do governo é a Netflix, maior empresa de streaming do mundo. Diferentemente do que se encontra disponível no Brasil, na China há diversas empresas de streamings. E a censura funciona para estes sites locais, é claro: apenas 34 filmes ocidentais são repassados à China por ano, e geralmente sem cunho político. Isto só ocorre quando se trata de produções contra os Estados Unidos.
Por último, a censura é feita também a sites de bancos e jornais estrangeiros, principalmente norte-americanos: casos como o do
The NY Times,
Washington Post,
Bloomberg,
The Wall Street e
The Economist.