Por Fernando Castilho do JC Negóciis
O presidente Jair Bolsonaro mirou na imprensa quando disse que “muito do que tem ali [noticiado] é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga". Mas acabou dando uma enorme pancada no trabalho de seu ministro da Saúde Luiz Fernando Mandetta.
De fato, mesmo com as conhecias deficiências do SUS (Sistema Único de Saúde), que é braço do poder público responsável por controlar a doença, a maioria dos cientistas concordam que o ministério, tem acertado no monitoramento da crise até o momento.
Assim, a declaração do presidente além de estapafúrdia, desacredita o trabalho do ministro e da equipe que está trabalhando duro para se preparar para o pior que deve acontecer em duas semanas.
Na verdade, como alertou o ministério, nas próximas semanas poderemos ter uma aceleração exponencial do número de infectados tanto que Mandetta pediu a cinco hospitais filantrópicos de excelência no país que usem recursos e pessoal envolvidos hoje em projetos desenvolvidos no SUS no enfrentamento da epidemia.
Mas o presidente parece não entender isso, a despeito de até ter feito um pronunciamento na semana passada sobre o problema. Parece não ter percebido o impacto desta segunda-feira, quando seguindo tendência global de queda, a Bovespa encerrou o pregão em baixa de 12%, a Petrobras perdeu R$ 91,1 bilhões de valor de mercado, a cotação do dólar atingiu R$ 4,78, mesmo com a injeção de US$ 3,5 bilhões do Banco Central no mercado para conter a escalada.
Mas porque o presidente atuar dessa maneira? Porque insiste me negar a importância de um evento de classe mundial atacando a imprensa.?Talvez a resposta esteja na própria pergunta. A imprensa é o foco do presidente. A grande imprensa que ele considera como inimiga.
Bolsonaro não atua assim porque não gosta jornalistas fazendo perguntas que ele tem dificuldade de responder. O presidente carregou para o Palácio do Planalto uma velha mágoa com a mídia que nunca o levou a sério. Ele se refugiou nas redes sociais - onde jacta-se de ter milhões de seguidores - com uma alternativa ao espeço que a mídia nunca lhe deu.
Há uma enorme diferença entre o sentimento dele com a mídia o de Donald Trump. A imprensa americana sempre tratou Trump com desconfiança pela sua atuação como empresário e porque ele nunca divulgou números de seus balanços. É uma velha briga de números, O caso de Bolsonaro é porque a mídia nunca lhe deu importância. Assim, uma vez na presidência, ele a despreza e elege interlocutores no setor que estão dispostos a apoiar o governante de plantão.
Mas no caso da negação do impacto do corona vírus, o assunto fica mais sério porque ele terá que intervir e deslocar recursos para o problema de saúde. Terá de mover grandes volumes de dinheiro mesmo se o corona vírus não tiver impacto de epidemia.
A declaração e ruim porque sinaliza dificuldades de alocação de verbas. Os governadores pediram, R$ 1 bilhão e o ministro Mandetta disse que, por ora, só tem R$ 200 milhões. Mas sabe que terá que gastar mais,
O Brasil vem tendo até agora uma elogiada atuação porque a rede do SUS e os sistema de captação de informação estão permitindo o governo dar passos no planejamento. O presidente poderia ajudar dando declarações de apoio ao trabalho de seu ministro da Saúde. Mas ele prefere uma realidade paralela que, infelizmente, não vai subsistir a dura realidade que nos espera.
E isso em poucas semanas como prevê o próprio ministro Mandetta.
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