Por Leonardo Spinelli, para coluna JC Negócios
Agora que está praticamente definido que Bolsonaro perdeu uma importante base para seu discurso populista de direita com a derrota de Trump, aqui no Brasil o resultado das eleições municipais vai mostrar qual será o tamanho de sua força política para enfrentar o que talvez será o maior desafio de seu governo: como gerar renda para os quase 9 milhões de brasileiros que saíram da força de trabalho durante a pandemia da covid-19. Pelos números do IBGE, eram 77 milhões de pessoas com idade para trabalhar mas que estavam fora da força de trabalho no segundo trimestre.
Por causa do auxílio emergencial, que começou a ser pago em abril, o pessoal deixou de procurar emprego. Com o fim do benefício marcado para dezembro, muitos vão voltar a procurar uma fonte de renda, o que vai pressionar a taxa de desocupação é de 13,8% no Brasil, 15,6% no Nordeste e de 14,5% em Pernambuco, onde 541 mil pessoas deixaram de procurar emprego no segundo semestre, segundo o IBGE.
Um dado positivo, no entanto, vem da indústria, com o desempenho de setembro indicando forte expansão do PIB no terceiro trimestre. A produção industrial registrou alta de 2,6% entre agosto e setembro, também segundo o IBGE. Foi a quinta alta consecutiva, deixando o indicador no melhor patamar do ano, avançando 22,3% no terceiro trimestre, compensando o recuo de 17,5% do trimestre anterior. Instituições bancárias como o Bradesco afirmam que o desempenho da indústria reforça uma visão mais positiva para o PIB também no quarto trimestre.
"Há um atraso no mercado de trabalho em relação a atividade econômica. É normal um atraso de dois, três meses", afirma o economista Daniel Duque, pesquisador da FGV/Ibre ligado ao movimento Livres.
Mesmo que a boa reação da economia traga uma perspectiva de reflexo positivo no mercado de trabalho, o fim do auxílio emergencial também vai fazer pressão para baixo na taxa de desocupação.
O fim do auxílio também traz outro impacto negativo, na recuperação que veio devido ao aumento do consumo das famílias. "Um terço da população teve aumento de renda no pós-pandemia", lembra o economista. Em outras palavras, essa parcela da população perde o poder de compra.
É bom lembrar que o empobrecimento gera insatisfação popular. Diante desse quadro, Bolsonaro enfrentará uma pressão para implementar aumento nos programas sociais, o que não é uma situação simples, pois o governo endividado não tem recursos para contar sem furar o compromisso com o teto de gastos, o que pode complicar ainda mais a sua capacidade de cumprir compromissos.
Medidas já foram tentadas para expandir os gastos sociais no orçamento do ano que vem, como retirar recursos do Fundeb, que está fora do teto, ou o uso do dinheiro dos precatórios. Todas as medidas foram descartadas, foram entendidas pela sociedade como tentativas de mascarar aumento de gastos, outras simplesmente não foram aceitas pelo presidente, como a ideia de não dar reajuste aos aposentados.
Apesar de aparentemente não dispor de mais tempo hábil para colocar a nova despesa, é provável que o governo vá continuar tentando achar um espaço para o benefício, considerado uma peça chave na tentativa de reeleição. "Tudo isso vai depender do Congresso e da força política do governo. Dependendo da força política, há a possibilidade", avalia Daniel Duque.
De uma forma mais pragmática, o presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, diz que a participação do Congresso é importante na agenda das reformas. Ele acredita que o bom cenário da atividade econômica vai trazer um impacto positivo na queda da taxa de desemprego.
Essinger, pondera no entanto, que os parlamentares precisam entender a gravidade da situação. "O Congresso tem criado obrigações", critica. Um exemplo disso aconteceu nesta semana, quando foi aprovado no último dia 5 de novembro projetos do governo abrindo crédito de R$ 27,1 bilhões para despesas com pessoal e outras medidas.
"Se conseguirmos um crescimento acima de 2,5% (do PIB) e a colaboração do Congresso com as reformas tributárias e administrativa, deixando de criar despesas sem aumentar receita, é possível. Mas o poder público não está preocupado em ser eficiente e reduzir despesas, quer mais recursos para se retroalimentar", critica o líder empresarial.