Coluna JC Negócios

Dinheiro do governo federal para empresas na pandemia ficou com grandes e megacompanhias

Segundo os bancos, eles não tinham como emprestar às micro e pequenas empresas porque elas não tinham garantias para os empréstimos

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 02/02/2021 às 7:00 | Atualizado em 02/02/2021 às 7:35
Notícia
X

Durante a crise do coronavírus, as grandes e megacompanhias brasileiras foram as maiores beneficiárias do crédito liberado pelo governo federal com juros mais baixos e prazos mais longos para pagamento.

O relatório Estatísticas Monetárias e de Crédito do Banco Central do Brasil, divulgado na última sexta-feira, confirmou uma informação que o mercado tinha sobre para quem foi o dinheiro que o BC liberou para irrigar as necessidades de crédito diante da pandemia. As maiores empresas que operam no Brasil tomaram quase a totalidade do crédito ofertado: perto de R$ 1 trilhão em novas operações.

Somente no segundo semestre, quando milhares de pequenas e micro empresas tinham fechado suas portas, o governo conseguiu implantar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), um programa de crédito acessível ao segmento, no qual a União assumiu o risco de 85% do crédito, foi que as empresas puderam sobreviver à pandemia.

Nos meses de março, abril e maio, as concessões de crédito, com juros baixos, anunciadas pelo Banco Central explodiram. Mas enquanto as grandes corporações puderam tomar novos créditos com prazos de carência de até um ano, as micro e pequenas empresas só puderam renegociar suas dívidas com os bancos.

Sem ter como dar garantias, elas não tiveram acesso ao crédito para capital de giro. As grandes empresas, que já tinham cadastro e puderam ofertar garantias, puderam ter o crédito sem grandes dificuldades e em muitos casos com os bancos oferecendo o dinheiro que o BC deixou disponível.

Além disso, as grandes companhias, muitas delas com ações em bolsa e extremamente capitalizadas, também puderam se beneficiar das medidas de suspensão de contratos e de pagamentos dos tributos federais e estaduais, únicos benefícios que as micro e pequenas empresas puderam acessar.

No final do ano, o Banco Central revelou que o crédito livre a pessoas jurídicas alcançou R$ 1,1 trilhão, registrando aumento de 21,1% no ano, com destaque para carteira de capital de giro, que cresceu 46,3%.

Mas como para o Pronampe, implantado somente a partir de agosto, só foram aplicados R$ 37,5 bilhões com aval da União, fica fácil avaliar para onde foi, de fato, a linha de crédito para capital de giro.

Parte dessa situação se deve à pouca interação do bancos públicos e privados com as micro e pequenas empresas, que geram 80% dos empregos no Brasil e têm o menor custo por cada posto de trabalho que abrem todo os dias. Mas a crise do coronavírus mostrou um lado cruel dessa situação.

Enquanto os bancos gastavam milhões de reais na sua publicidade, dizendo que estavam ajudando as empresas, no segmento de micro e pequenas os empresários nem conseguiam falar com seus gerentes.

Os grandes bancos criaram canais digitais que apenas orientavam esse segmento a renegociar suas dívidas. Ou fazer a antecipação dos recebíveis como as faturas dos cartões de crédito ou cheques pré-datados.

O comércio em especial foi o segmento que mais sofreu e junto com o setor de serviços, foi o que mais fechou empresas.

No ano passado, saldo das operações de crédito do sistema financeiro nacional alcançou R$ 4 trilhões, crescimento de 15,5%, representando aceleração em relação aos 6,5% de 2019. Mas isso não quer dizer que foi porque o banco emprestou mais dinheiro às empresas para que segurassem seus empregados.

O crédito para as empresas atingiu R$ 1,8 trilhão, alta anual de 21,8%, ante uma queda de 0,1% em 2019. Mas quem mais tomou crédito forma às famílias com R$ 2,2 trilhões, crescimento de 10,9% no ano, de 11,9% em 2019.

Isso aconteceu porque as pessoas físicas também renegociaram suas dívidas, o que na contabilidade conta como uma nova operação financeira.

A dificuldade, segundo os bancos - após muita crítica - foi que eles não tinham como emprestar às micro e pequenas empresas porque elas não tinham garantias para os empréstimos. Somente quando o governo, através do BNDES, se responsabilizou por 85% do crédito através de um fundo garantidor, o dinheiro começou a fluir.

 

Tags

Autor