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Brasil terá menos doses de vacina contra a covid-19 disponíveis em abril

Com a entrega das 8,8 milhões de doses que ainda faltam do contrato de 46 milhões da CoronaVac, o Brasil passa a depender, cada vez mais, da produção da Fiocruz.

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Fernando Castilho

Publicado em 08/04/2021 às 6:00 | Atualizado em 08/04/2021 às 7:18
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A notícia de que o envasamento de doses da vacina contra covid-19 CoronaVac foi temporariamente suspenso pelo Instituto Butantan, nesta quarta-feira (7), após atraso na chegada de matéria-prima vinda da China é mais um problema na difícil tarefa do governo de gerenciar o Plano Nacional de Imunização.
Segundo o Butantan, uma nova remessa do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) deve chegar ao Brasil próxima semana.

Mas é preciso não esquecer. Com a entrega das 8,8 milhões de doses que ainda faltam do contrato de 46 milhões da CoronaVac, produzidas pelo Butantan (e que devem ser entregues na próxima semana), o Brasil passa depender, cada vez mais, da produção da Fiocruz.

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A instituição produz a vacina da AstraZeneca e até agora só entregou 8,1 milhões de doses, sendo 4 milhões importadas prontas. A Fiocruz promete entregar, este mês, 19,7 milhões de doses.

O cronograma da Fiocruz prevê no dia 02/04, 1,32 milhão (essa doses já foram entregues); 5/04 e 10/04 mais 2 milhões de doses; 12/04 e 17/4, mais 5 milhões; 19/4 e 24/4 mais 4,7 milhões e 26/4 e 01/05 outras 6,7 milhões.

Isso quer dizer que o Brasil só poderá contar, em abril, com 28,5 milhões de doses (8,8 milhões do Butantan e 19,7 milhões da Fiocruz), uma margem muito estreita para o fluxo de vacinação no País.

A Fiocruz promete três entregas acima de 4,7 milhões, a partir da próxima segunda-feira, o que pode manter minimamente a vacinação, já que elas podem ser aplicadas por terem mais prazo para a segunda dose.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que recebeu na última sexta-feira (2) mais 225 litros de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca.

Com essa quantidade de princípio ativo, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz conseguirá produzir 5,3 milhões de doses da vacina. O problema é que a Fiocruz ainda está na curva de aprendizado de processar a vacina.

A Fiocruz, responsável por produzir a vacina Oxford/AstraZeneca no Brasil, ainda diz que toda a produção própria é destinada exclusivamente ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde.

Setor privado

O quadro ficou preocupante porque, ontem, as quatro empresas farmacêuticas Pfizer, Janssen, AstraZeneca e o Instituto Butantan, que representa a chinesa Sinovac, informaram que não venderão vacinas ao setor privado, apesar do Congresso estar votando lei permitindo.

Além das empresas, o Butantan disse que vai seguir com entrega na próxima semana, já que tem 2,5 milhões de doses prontas, aguardando o prazo do controle de qualidade.

Com a entrega de mais 1 milhão de doses feita nesta segunda-feira (5), o Instituto Butantan chegou a 37,2 milhões de doses da vacina. Este é o total de vacinas entregues para a imunização de brasileiros.

Até 30 de abril serão 46 milhões de doses da vacina. O Butantan trabalha no envase de vacinas contra covid-19 desde janeiro, quando foram entregues 8,7 milhões de doses da CoronaVac. Em fevereiro, 4,85 milhões e, em março, 22,7 milhões.

O Butantan, por sua vez, também destacou que “trabalha para atender à demanda da rede pública de saúde”. O órgão paulista prevê entregar 100 milhões de doses da Coronavac até o fim de agosto.

Esse cenário deixa o Brasil com um cronograma muito apertado este mês e na expectativa de receber, ainda em abril, novo lote da Covax-Facility (Oxford/AstraZeneca).

O consórcio global já entregou 1,02 milhão de doses e promete mais 9,1 milhões de doses até maio, dentro de um pacote de 42,5 milhões de doses até agosto.

A proposta de compra de vacinas tem críticos importantes. Nesta quarta-feira, o diretor adjunto da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que a vacinação contra a covid-19 deve ser uma política pública, liderada pelos ministérios da Saúde locais.

Ele também afirmou, em coletiva de imprensa, que uma possível permissão de venda do imunizante ao setor privado neste momento, em que há escassez do produto no mercado, ampliaria as desigualdades.

 

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