Nos últimos anos, empresas como Moura Dubeux, Mateus e Pague Menos, todas com sede no Nordeste, veem chamado a atenção dos investidores pelo sucesso de seus modelos de negócio - que os levaram ao caminho natural de fazer uma oferta inicial de ações (IPO).
Mas duas delas têm chamado a atenção por estarem performando acima da média nos seus setores, exatamente quando a média do segmento enfrenta dificuldades. São o pernambucano Ser Educacional e a cearense Hapvida.
O que os diferencia dos demais é a estratégia de crescimento além do orgânico e da determinação em dar paços ousados que assustam concorrentes e os obrigam a movimentos bruscos para são serem ultrapassados.
O caso mais recente é o da Hapvida, que anunciou, no domingo, que vai lançar mais ações, numa oferta que pode movimentar até R$ 2,676 bilhões (se conseguir vender todos os lotes), provocando um pequeno terremoto no mercado - com os investidores querendo se informar mais sobre a onda de impacto da atitude.
De qualquer forma, e com medo de um pequeno tsunami, várias empresas do setor médico que estavam preparando seus IPOs, decidiram esperar para ver a onda passar.
No outro lado, o Grupo Ser Educacional, quando a maioria dos concorrentes listados na B3 amargam prejuízos, viu seus resultados crescerem em 2020. Teve lucro líquido de R$ 165 milhões com alta de 21% ante 2019.
O Ser Educacional foi personagem de uma das jogadas mais ousadas no setor de faculdades privadas no ano passado, quando tentou comprar a Leauretae Brasil (vendida para a Cogna), mas acabou levando um pacote de universidades e faculdades pelo valor da multa de R$ 180 milhões.
Ou seja, ele ganhou R$ 180 milhões em novas marcas, inclusive chegando ao Rio de Janeiro sem desembolsar um real.
Parte desse sucesso de HapVida e Ser Educacional se deve às estratégias traçadas pelos seus fundadores e controladores, o médico Candido Pinheiro Koren, do Hapvida, com os seus filhos Jorge Pinheiro e Candido Junior; e o ex-professor, da UDPE, Jaguiê Diniz com os seus irmãos Jânio e Jairo, no Ser Educacional.
Os dois lideres desenharam o caminho da trajetória que transformaram as duas companhias num mercado dominado por gigantes.
O caso da Hapvida é tão surpreendente quanto o do Ser Educacional. A companhia cearense de planos de saúde assumiu o controle da gestão da concorrente NotreDame transformando-se num negócio de R$ 120 bilhões.
A fusão envolvendo troca de ações deu aos acionistas da Hapvida 53,1%, enquanto a Intermédica ficou com 46,9% da nova empresa. A família Pinheiro, que controla o Hapivida e tinha 70% das ações, ficou com 37.6% da companhia e permanecendo como seu maior acionista.
Esta semana, a Hapvida anunciou estar vendendo mais ações - indicando que vai continuar agressiva no mercado.
O caso de Janguiê não é menos interessante. No ano de 2018, ele tentou fazer uma fusão de sua companha com a Estácio. Não conseguiu, mas obrigou a Estácio a uma fusão, gerando a Cogna que, ano passado, comprou a Anhanguera.
Dona de marcas como o Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau) e Universidade da Amazônia (Unama), a companhia de Diniz viu o número de alunos aumentar 3,5% ao longo do ano, alcançando 191 mil estudantes.
O Ser também se reorientou e passou a buscar referências internacionais para agregar valor para suas marcas. Através de uma série de parcerias com empresas renomadas que oferecem esse tipo de serviço. Também cresceu em Medicina, a área mais rentável entre os cursos presenciais.
Agora o Ser tem plataformas como aGoKursos, que funciona como uma espécie de shopping virtual de educação, as parcerias incluem, além do Google, marcas como Barcelona Technology School, Avanade e a gigante IBM.
O projeto do Ser Educacional é virar uma central de conteúdo online para qualquer etapa de formação do estudante, oferecendo produtos com maior tíquete médio. O que o presidente Jânio Diniz, irmão de Janguiê chama de um marketplace para venda de cursos, como também cursos livres.
Além disso, a companhia que ser forte presencialmente nas praças onde atua especialmente no Nordeste, embora seus melhores resultados venham dos cursos EAD.
A busca de estratégias especificas também é o foco da Hapvida. Quando o setor foi todo para os planos empresariais, a companhia de Candido Pinheiro apostou no segmento individual com uma forte verticalização de serviços.
Com a fusão com a NotreDame, a Hapvida levou para as regiões Sul e Sudeste a expertise de 30 anos nesse nicho, que ainda tem 8 milhões de vidas dos 49 milhões de segurados do setor privado no mercado do Brasil, segundo relatório do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar IESS.
São estratégias bem específicas que os gigantes do setor de cada uma delas não tem como aplicar antes de uma adaptação muito grande.
Enquanto isso, os dois grupos de origem nordestinas surfam na onda de sucesso no meio de uma crise como a do Coronavírus - que no caso do Hapvida trouxe mais clientes assustados com a possibilidade de serem infectados e, no caso, do Ser Educacional mais alunos que precisam continuar a estudar.