Roupa e sapato fazem parte do mesmo grupo de Vestuário, mas são coisas diferentes. Não existe essa conversa de convergência de marcas. O setor de roupas roda numa dinâmica e o calçado noutra. Podem até conviver, trocarem figurinhas. Mas sabem que o consumidor olha para cada um de uma forma diferente.
Isso explica por que Fábio Hering preferiu se juntar com a dona da Farm e da Animalle e não com a Arezzo. A Arezzo faz calçado, a Soma dona das duas marcas faz roupa.
Se a Hering se juntasse coma a Arezzo a família que fundou a empresa até ficasse mais rica, mas o futuro é que a marca virasse subproduto das marcas (de calçados) da Arezzo, Shutz, Birman e um marca de roupa da OWME.
E Fabio Hering não reformou sua marca de camisetas agregando valor às suas peças para virar submarca de ninguém.
Como ele disse “A Hering escolheu a Soma e a Soma escolheu a Hering. Há um ‘fit’ neste negócio”, disse Hering. Ou seja: as duas empresas vão continuar a fazer roupa. O foco do negócio é outro próximo, mas bem diferente de sapato.
Para entender essa decisão serve uma velha frase do português Joaquim Vasconcelos, que foi dono da Esposende, que depois foi vendida ao grupo Paquetá e perdeu Market Shere e reduziu se ticket médio.
"A mulher se verte de baixo para cima. Ou seja, primeiro ela compra o sapato e depois escolhe a roupa que pode combinar com ela".
Isso é bom para a família Birman, que controla 51% do grupo Arezzo, mas é péssimo para família Hering. E isso explica sua recusa furiosa à oferta hostil há 10 dias e a negociação num final de semana.
As famílias do segmento de roupas já se conhecem pela disputa no setor de moda, conversando em feiras de moda e desfiles onde sapato é um item secundário. São complementares e trocavam figurinhas.
Além disso na nova companhia, os acionistas da Hering terão 34% da empresa e Fabio Hering será o novo presidente do conselho da nova varejista. Roberto Jatahy (filho de Geraldo Samorm, controlador do Grupo Soma) será o presidente do grupo e Thiago Hering, filho de Fabio, será o CEO da Hering.
A oferta de família Birman fora feita de forma discreta há duas semanas, mas sem uma conversa pessoal. Isso explica por que a Hering resolveu recusar a proposta de aquisição feita pela Arezzo, de público com um sonoro não.
Depois de anos levantando a marca, criando franquias agregando valor ao tecido de algodão o modo utilizado pela Birman (publicação de um fato relevante, que não era obrigatória por lei), causou surpresa e indignação dos Hering. Imagina vender uma companhia centenária para um grupo que os acionistas não têm qualquer relação?
A proposta formal do Soma (Farm, Animale, Foxton, Maria Filó e outras), de R$ 5,1 bilhões, foi feita na noite de sexta-feira e os dois donos resolveram fechar tudo no domingo.
Tem mais: Juntas as marcas agora ficam mais fortes e robustas. Podem até no futuro serem adquiridas por investidores com foco no ramo de calçados. Mas ganharam tempo.
Os analistas vão dizer que o Soma chegou muito perto do que a Hering pedia, e as conversas andaram rápido, uma vez que havia disposição da família em vender. E verdade, mas o que importa é a confiança entre os sócios
Num Brasil onde o crescimento do Magalu comorando empresas para reforçar seu Market Place levando ao GPA de criar uma companhia só para o Assaí e Ponto Frio até mudar de nome para Ponto:> não fazia mesmo muito sentido a Hering virar marca da Arezzo.
A sabedoria popular diz que no mercado assim como no mar é melhor ser cabeça de sardinha do que ser rabo de baleia.