João Lyra era vice-governador e foi convocado por Eduardo Campos para dar uma geral na secretaria de saúde que tinha queixas diárias de atrasar pagamentos mesmo tendo dinheiro em caixa. Ele refundou a secretaria criando uma unidade completamente digitalizada. Mas acumulou boas histórias. Como a de um funcionário de um laboratório que passava o dia nos corredores dos departamentos distribuindo amostras grátis apenas para fazer as faturas andarem nos departamentos até chegarem na pagadoria.
A presença de figuras como a do cabo PM-MG, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresentava como representante da empresa americana Davati Medical Supply revela como a falta de política básicas de controle de aquisições, às vezes permitem não só o aparecimento de figuras inexpressivas como o cabo Dominguetti, mas de outros agentes infiltrados.
Claro que esse tipo de personagem, como o do funcionário do laboratório que cuidava para as faturas não ficassem nas gavetas da secretaria de saúde de Pernambuco, só existe quando o quadro geral cria oportunidades. Mas as conversas do representante da Davati deveriam ser evitadas já no primeiro contato se o Ministério da Saúde tomasse cuidados básicos.
A conversa da propina de U$1 por unidade denunciada pelo Dominguetti e seus possíveis interlocutores já demonstra que, se ocorreu, foi uma reunião de idiotas.
Nem no Petrolão se pagou o percentual de 28,5% (U$1 sobre U$ 3,5 por dose de vacina). Ou seja, sobre uma compra de U$ 1,4 bilhão os vendedores teriam que pagar US$ 400 milhões a um grupo de pessoas quem ninguém sabia de onde surgiu. Nenhum deles avançou da análise de como fazer para entregar ao suposto grupo de corruptos a “módica” quantia de R$ 2 bilhões
Então, se a reunião aconteceu e se houve a proposta o prosseguimento de qualquer conversa como se viu terem ocorrido na sede do ministério da Saúde, só mostra essa falta de cuidados. Porque sempre fica a pergunta: E se o governo topasse? Algum desses personagens achava que iria passar desapercebido?
O problema é que essa conversa de idiotas teve a presença de gente com poder do Governo. Gente como, se sabe hoje, autorizou o pagamento de verbas semelhantes como o diretor do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, responsável por aprovar e autorizar a reserva de R$ 1,61 bilhão para o pagamento pela vacina indiana Covaxin.
É claro que o processo da Covaxin é diferente com que seria o da Davati. Além disso, pelo que se apurou até agora, a compra do imunizante da Barath Biontech está dentro de um conjunto de atos que vão do próprio Governo até a recusa da Anvisa e que, como se viu, teve atos de pressão para o andamento.
Mas a presença de figuras como Dominguetti tendo acesso a altos funcionários do Governo mostra que ao redor do ministério existe um verdadeiro zoológicos de animais estranhos à floresta da Saúde e da covid-19 que vivem caçando oportunidades.
O problema é que o Governo Bolsonaro foi eleito com um discurso de combate à corrupção que não se provou na prática. Do presidente que, ao ser informado pelos irmão Miranda, não tomou providencias imediatas ao surgimento de figuras Dominguetti, E isso já deixa claro é que, sem uma definição clara sobre o que pretendia em relação às vacinas, o Governo Bolsonaro permitiu a saída da toca desses representantes de várias empresas sem qualquer idoneidade.
A questão da vacina apenas mostra que quando o governo disse que só compraria AstraZeneca, em 2020 e decidiu buscar alternativas com o aumento de casos no começo de 2021, abriu a porteira para toda uma fauna de bichos estranhos ao habitat natural de conversas apenas entre governos e laboratórios.
Nos países e até estados brasileiros onde as articulações da Davati aconteceram, a polícia for chamada. No ministério da Saúde ela chegou à porta do gabinete do ministro da Saúde o que só revela que o ambiente ali permitia qualquer tipo de oferta de ocasião.